Alguns pontos para a análise da avaliação final:

- trazer a biografia das obras, como vieram parar na coleção

- refletir sobre a ausência de uma recepção crítica delas no Brasil

 

Formas únicas na continuidade do espaço, Umberto Boccioni, 1913

A obra escultórica de Boccioni é muito estudada no exterior. Nos EUA circulou com muita intensidade como modelo do que é a escultura futurista.

Cor do gesso: originalmente era branco puro. Hoje, há pelo menos 4 camadas de pigmento sobre o gesso.

A técnica usada foi o gesso a tasselo, usada para reprodução.

Para Boccioni, Medardo Rosso, escultor atuante desde o fim do séc. XIX, era referência para a ideia de simultaneidade em escultura. Rosso foi assistente de Rodin. Colecionada fotografia e também fazia uso dela para sua poética – atenção à luz.

Boccioni lê Henri Bergson.

Exposição na galeria La Boetie: 14 esculturas (em gesso e materiais variados) e vários desenhos.

  • As obras são registradas em fotografia. Formas únicas é a única da qual foram fotografados os 4 lados – desejo de registro.
  • Maneira de expor: esculturas em pedestais altos e estreitos

Luisa Casati, aristocrata que em 1915-16 se aproxima de Marinetti e dos futuristas, a villa em Veneza comprada por Peggy Guggenhein pertencia a ela.

  • Provavelmente adquiriu a obra diretamente do artista.
  • Em janeiro/1933 a vende a Marinetti.
  • 1933, grande retrospectiva futurista em Milão. A prefeitura de Milão adquire um dos bronzes – hoje presente no Museo del Novecento.
  • Marinetti morre em 1944, a esposa Benedetta Cappa Marinetti dá continuidade à atuação como promotora da obra de Boccioni iniciada pelo marido. Tem participação essencial na presença das obras boccionianas no MoMA.


As reproduções: foram feitas 7 bronzes a partir do gesso do MAC

  • O bronze do MAC é de 1960 (o penúltimo), realizado no contexto da transferência da coleção do antigo MAM-SP para a universidade e da separação de Matarazzo e Iolanda
  • O último é realizado para enviar à Tate em troca de uma obra de Henry Moore.

[Episódio em que Chateaubriand pede ao governo brasileiro que pague por obras – biografia Fernando Morais]

Bergson fala da concepção destruição mármore/bronze, mencionada no Manifesto da Escultura Futurista (1912).

Chiurazzi, fundidora tradicional de Nápoles, faz as primeiras fundições de Marinetti.

No Brasil, as reproduções em bronze são feitas em São Paulo, por duas empresas diferentes, mas pelo mesmo artesão Vittorio Sinigaglia.

 

Dois artistas brasileiros retomam Boccioni:

 

Anita Malfatti, obras em pastel 1915-16 (fase em que estava nos EUA), retoma aspectos bem evidentes das linhas de força do futurismo, em especial de Formas únicas...

 

Autorretrato, Amedeo Modigliani, 1919

 

Aquisição:

  • A obra foi adquirida na primeira campanha de aquisições para o que museu de arte moderna que viria a ser criado, por parte de Ciccillo Matarazzo.
  • A escolha da obra foi intermediada por P. M. Bardi, ainda não havia a participação de Margherita Sarfatti.
  • No caderno de Iolanda Penteado, ela registra a obra como sendo um presente de aniversário de Ciccillo para ela.
  • A obra aparece como pertencente ao MAM-SP nos artigos sobre ao museu recém-inaugurado, mas fica na casa de Iolanda até a doação da sua coleção ao MAC USP em 1973.

 

Obra:

  • A figura com o foulard: imagem boêmia que circulava de Modigliani.
  • Em Paris, trabalha no ateliê de Brancusi – obras como A Musa Adormecida (1910) são referência, assim como as esculturas etruscas encontradas recentemente.
  • A paleta de cores representada traz as mesmas cores usadas no resto do quadro.

[A obra entra para a coleção de Riccardo Gualino por intermédio de Lionello Venturi. Acusado de estelionato, a obra é confiscada e colocada a leilão. Acaba no depósito de uma galeria milanesa e é comprada por outro colecionador importante, Alberto della Ragione, que doa parte da sua coleção para a cidade de Florença, no pós-guerra.]

  • Para Venturi, a linha de síntese vem de Cézanne, tanto nos elementos plásticos quanto com o retrato de menino de Cézanne. Para Soby, a herança vem da retratística do renascimento florentino.
  • Mário Pedrosa, em resenha sobre a exposição de Paris em 1950, assimila a leitura de Venturi.

 

A obra circula em muitas publicações até os anos 1960, em monografias italianas de importantes coletâneas, como a de Giovanni Scheiwiller. Depois disso, desaparece, e reaparece só em 2002, quando o museu Luxembourg realiza uma grande retrospectiva e traz a obra como de localização desconhecida.

Modigliani morre pouco depois da realização da obra, em 1920. A Bienal de Veneza de 1930 traz uma retrospectiva do artista, apresentado no contexto dos Italianos de Paris, promovidos por Léonce Rosemberg. A partir de então, começa a circular na Itália, até as leis raciais de 1938, em que sua obra passa a ser malvista.

[artigo Emily Braun sobre a exclusão de Modigliani por ser judeu]

 

Formas únicas... de Boccioni e o Autorretrato de Modigliani são vistas no Brasil como obras emblemáticas da vanguarda italiana.

Última atualização: segunda-feira, 3 jun. 2019, 19:08