Agenda do Curso

  • EHA 5734 2017 - TEORIA E METODOLOGIA EM HISTÓRIA DA ARTE

  • Aula I

    DIA 07/03/2017 - Apresentação do programa de curso

    Leitura Hal Foster, "The Archive without Museums" (disponível via jstor: www.jstor.org/stable/778962


    Durante a apresentação do programa da disciplina, a professora ressaltou que a escolha dos autores que compõem o curso levou em consideração a sua importância para a História da Arte no Brasil. Nesse sentido, apesar dos autores da disciplina serem todos estrangeiros, eles foram fundamentais para o pensamento dos teóricos brasileiros que refletiram sobre o nosso contexto.

           

    Em seguida os alunos foram divididos em grupos e instruídos a discutir as seguintes questões:

    - Definir o objeto de estudo de cada um

    - O que é História da Arte para eles, hoje?

    - Porquê o interesse deles pela disciplina?

    Com as discussões compartilhadas pela sala, a História da Arte foi entendida como uma disciplina humanista que, depois de consolidada no ambiente acadêmico, perdeu o domínio absoluto na interpretação das imagens, e portanto, sofre uma crise há algumas décadas.

     

    Por fim, o artigo de Hal Foster, “The Archive without Museums”, foi utilizado para refletir sobre esta crise da disciplina. Sobre o texto, a professora salientou que:

    - Hal Foster escreveu esse artigo na emergência dos programas de cultura visual e estudos visuais nas universidades norte-americanas (marcando um grande cisma e uma grande crise na disciplina da história da arte).

    - Seu artigo, ademais, sistematiza aquilo que ele entende ser duas grandes vertentes das teorias de história da arte ao longo do século XX (da autonomia do campo artístico e de uma linhagem antropológica/culturalista), em que ele dá um largo panorama de evolução da disciplina.

    A estrutura do texto foi dividida da seguinte forma:

    1a. parte do texto – coloca o problema central da disciplina de história da arte, ligada à suas práticas e metodologias.

    - Expõe a negligência com que, para ele, foi tratado o impacto da reprodução fotográfica no estudo da arte no início do Século XX (cita Malraux e Benjamin).

    2a. parte do texto – trata o problema das antinomias da história da arte, seus termos teóricos e o que ele chama da sua “virada etnográfica” (sua aproximação ao campo da antropologia) até sua“transformação” em “cultura visual”.

    - Segundo o autor a antinomia teria permanecido – isto é, a dicotomia abstração/autonomia (presente no termo “arte” e depois no termo “visual”) e contexto/historicismo/condições materiais (presente no termo “história” e depois no termo “cultura”).

    - Acentua como a história da arte como disciplina humanista (assim como a antropologia, no fim das contas) responde às questões colocadas dentro de um mundo globalizado – questões de alteridade, de localidade.

    - Crítica de Foster à continuidade da omissão das hierarquias e das relações de força. Sobretudo quando as ferramentas contemporâneas do historiador da arte são os bancos de dados de imagens, museus, arquivos e bibliotecas.

    3a. parte do texto – a emergência das ferramentas virtuais e do mundo digital (como o conhecimento em arte é ali representado)

    - Ele fala na “vingança da iconografia”, no “arquivo sem museu” e em “novo historicismo”

    - Nos convoca a analisar criticamente o uso dessas ferramentas e a forma através da qual o conhecimento sobre arte é ali apresentado (fala, por fim, de uma outra dimensão da AUTONOMIA da arte, alertando para suas dimensões políticas a cada contexto histórico - que é fundamental refletir a respeito)

     

    A crítica de Foster parece útil para entender a disciplina nesse momento. É uma repetição dos mesmos métodos e teorias com novas roupagens, se podemos assim dizer, e novos suportes – que, por outro lado, não são mais os mesmos


  • Aula II

    DIA 14/03/17 - Introdução à Disciplina de História da Arte

    Historiografia clássica da arte (Vasari, Winckelmann, século XIX)

    A literatura artística na Antigüidade

    - Mitos de Apeles, Zêuxis e Parrasius, descritos por Plínio, o Velho - Descrição de algumas obras de arte

    - Cícero e Quintiliano (séc. I a.C. - séc. I d.C.): 4 estágios de evolução da pintura - Experiência de Fídias, no Parthenon, e a questão do naturalismo

    Obs.: - Na antigüidade a pintura, a escultura e a arquitetura eram consideradas artes mecânicas, e não artes liberais como a filosofia (Não existe a ideia de artista criador até o iluminismo). Para os antigos o belo não era um problema da arte, mas da filosofia.

    - A defesa da arte como arte liberal vem do reconhecimento de que ela não é mera técnica, e que a ideia de mímese  significa transformar e interpretar para traduzir a realidade com geometria, matemática e filosofia.

    - É importante ter em mente que estes teóricos estão partindo de modelos muito restritos para conceber este conceito global de arte – por exemplo, a interpretação da arte grega que foi feita, em primeira mão, a partir das cópias romanas encontradas em sítios arqueológicos na Itália.

    A autonomia da literatura artística  no Renascimento

    1- comentário sobre a arte torna-se um discurso à parte, e não dentro de outros conteúdos.

    2- surge uma tradição ininterrupta de escritores que escrevem sobre a história da arte.

    3- Petrarca (1304-1374) formula a imagem cíclica da história: auge na civilização antiga, seguido de um período de declínio de 1000 anos e um sinal de renascimento a partir de meados do século XIV - conceituação de Idade Média e Renascimento (influencia a forma como Vasari entende os ciclos de estilo)

    Escritos sobre a arte e os artistas antes de Vasari

    Lorenzo Ghiberti (arquiteto e escultor, 1378-1455) – “Comentarii” (1447): exaltação da arte antiga, tratado de ótica, anatomia e teoria das proporções.

    Cennino Cennini (pintor, fim do séc. XIV e início do séc. XV) – “Il Libro dell’Arte”: primeiro tratado de arte escrito em língua vulgar.

    Antonio Manetti (arquiteto, literato, matemático e astrônomo, 1432-97) – “Vita di Brunelleschi” (1485): primeira monografia de um artista.

    Sobretudo Paolo Giovio (colecionador e erudito, 1483-1552) – biografias de Leonardo, Rafael e Michelangelo (1523-27): escritas a partir de sua própria coleção em Como (norte da Itália).

    Leon Battista Alberti (1404 - 1472) – Tratados sobre a pintura (teoria sobre a perspectiva), escultura e arquitetura

    Obs.: Este conhecimento não era desenvolvido no ambiente das universidades, mas nos circuitos intelectuais da elite.

    Le Vite, Giorgio Vasari

    - 2 edições: 1550 e 1568

    - biografias de artistas do Renascimento, tendo como ápice e eixo fundamental a obra e a vida de Michelangelo (mestre de Vasari), ilustradas com retratos dos artistas (gravuras de autoria desconhecida), abrindo-se com um retrato de Vasari. Dedicado a Cosimo I de` Medici (então governante de Florença).   

    - Vasari teme um período de decadência após este ápice do século XVI – isto não está bem resolvido no seu texto.

    - As três artes – Arquitetura, Pintura e Escultura – possuem um denominador comum, a arte do Desenho.

    - seu livro está vinculado a dois projetos:  a criação dos Uffizi e a fundação da academia de Florença.

    O Século XVIII: Da vida dos artistas à história da arte

    Johann Joachim Winckelmann (1717-1768): perspectiva de análise cultural da história, na qual a evolução das artes corresponde à evolução das civilizações.

    1755, “Reflexões sobre a Pintura e a Escultura dos Antigos”

    1764, “História da Arte Antiga” (em 4 volumes): história da arte e da arqueologia (catalogação do acervo do Vaticano).

    Obs.:-  Assim como Vasari, visão cíclica do desenvolvimento artístico.

    -       Desenvolve uma teoria da evolução das formas

    -       Arte clássica e naturalismo como valor maior.

    Outros fatores importantes deste período:

    - recuperação da Idade Média, através de estudos sobre a Arte Gótica (Romantismo) – veja-se Marc-Antoine Laugier (1713-69) e Goethe (1749-1832) – arquitetura.

    - Origem da Estética enquanto disciplina (veja-se Baumgart) e da idéia de uma disciplina da faculdade de julgar o belo (Immanuel Kant) - (A disciplina de História da arte é essencialmente de base Kantiana)

    O século XIX: História e crítica da arte

    - História da arte e da arqueologia como disciplinas acadêmicas na universidade.

    - Publicações especializadas em artes, como um corpo de jornalistas e literatos que faziam crítica de arte MODERNA. Veja-se, por exemplo, a Gazette des Beaux-Arts (em circulação desde os anos 1840).

    - história se caracteriza por 2 abordagens:

    Empirista – Giovanni Morelli (1816-91), Giovanni Battista Cavalcaselle (1820-97) e Bernard Berenson (1865-1959).

    Idealista (Hegel) - História cultural – Jacob Burckhardt (1818-97 ) , “A Civilização do Renascimento”  (1860), Aby Warburg (1866-1929), Alois Riegl (1858-1905) e Heinrich Wölfflin (1864-1945) - Primeiro a pensar autonomia, história das formas.

     

    Obras apresentadas em slide na sala de aula:

    1- Gravura de autor desconhecido, 1613 – Bibioteca da Universidade de Amsterdã – ilustração da disputa entre Zêuxis e Parrásio, tal como narrada por Plínio, o Velho;

    2- Elementos escultóricos do Parthenon, em Atenas – os chamados Elgin Marbles – obras de Fídias e Praxíteles;

    3- Domenico di Michelino, “Dante e os 3 reinos”, afresco, 1465, Museo dell'Opera del Duomo, Florença (Catedral de Santa Maria dei Fiori);

    4- Michelangelo Buonarroti, desenho do projeto da Praça do Campidólio em Roma, 1565; e Biblioteca Laurenciana em Florença, 1530;

    5- Torso de um Kouros, séc. VI a.C.; Torso de um Kouros, séc. VI a.C.;

    6- estátua de Demétrio, período clássico (séc. V a.C.);

    7- “Laocoonte e seus filhos”, escultura, apróx. 40 a.C.;

     

    Indicação de leitura:

    FERNIE, Eric (org.). “Introdução”. Art History and Its Methods: A Critical Anthology. Londres: Phaidon Press, 1995.


  • Aula III

    DIA 21/03/17 - Historiografia europeia consolidada

    1ª Parte – retomada texto Hal Foster

                A partir das dúvidas da sala, foi destacada a relação entre as teorias pós-coloniais e o surgimento das disciplinas de cultura visual e estudos visuais, que buscavam abranger as práticas artísticas não ocidentais. Entretanto, segundo o autor, apesar dos novos termos, a antinomia a partir da qual a disciplina de história da arte concebeu sua prática não foi completamente superada. Nesse sentido, para Foster:

    História = cultura/estudos

    Arte = visual/visuais

     

    2ª Parte - Escola de Viena

    A criação da História da Arte como disciplina na Universidade: Escola de Viena

    - Contexto - 1873: Império Austro-Húngaro, reforma da cidade de Viena e Exposição Universal de Viena – Congresso de História da Arte

    - Primórdios - 1854: cátedra de História da Arte no Instituto para a Pesquisa Histórica Austríaca (Österreichische Geschichtsforschung)

    - 1a. Geração: Moriz Thausing e Rudolf von Eitelberger

    - Ponto fundamental: Contraposição às teorias historicistas de Gotffried Semper (“forma determinada pelo material”) - resgate da arquitetura do Renascimento

    - Atribuir à disciplina de História da Arte metodologia científica – estudo das fontes documentais, aproximação à disciplina de História e afastamento das questões da Estética e do Gosto

     

    2a. geração da Escola de Viena

    - A origem latina da arte germânica era uma questão para esses autores nesse momento - alargando a idéia de arte antiga

    - Franz Wickhoff e Alois Riegl – reabilitação da história da arte romana e abordagem das chamadas artes aplicadas

    Franz Wickhoff: Gênese de Viena (em alemão, “Dier Wiener Genesis”), 1895 e Arte romana (em alemão, “Romische Kunst”), 1912

    Alois Riegl: Problemas de Estilo (em alemão, “Stillfrage”), 1893  - conceito de Kunstwollen – e As artes aplicadas na época romana tardia segundo as descobertas na Áustria-Hungria (em alemão, “Die Spätromische Kunstindustrie nach den Funden in Österreich-Ungarn”), 1901;

    - Kunstwollen - desejo/vontade artística - para ele não é a materialidade do objeto que determina sua forma, mas algo além que se encontra no criador do objeto. Existe uma história que é própria desses objetos (estudo de detalhes decorativos e objetos utilitários);

    - Julius von Schlosser: A literatura da arte (em alemão, “Die Kunstlitteratur”), 1924 – primeira sistematização do conhecimento sobre a disciplina até então

    - Fritz Saxl: disseminador e organizador das ideias de Aby Warburg (necessário levar em consideração que quando lemos Warburg, lemos através de Saxl e Gombrich)

    - Josef Strzygowski (autor rejeitado por ter se declarado nazista): Oriente ou Roma? (em alemão, “Orient oder Rom: Beiträge zur Geschichte der Spätantiken und Frühchristlichen Kunst), 1901 – sobre a influência de formas da cultura oriental (Oriente Médio, sobretudo) na arte greco-romana – fundamentado no estudo da Expansão Helenística. Ao contrário de Riegl,  que defende pureza da arte greco-romana

    Obs.: Matthew Rampley questiona os critérios para resgatar ou apagar os autores da Escola de Viena, uma vez que todos serviram em maior ou menor medida para fomentar um projeto político (no século XIX, do Império Áustro-húngaro; nos anos de anexação da Áustria pela Alemanha, do nazismo ).

    Aspectos comuns, de metodologia entre esses autores e sua contribuição para a disciplina

    - alargamento dos temas de pesquisa da História da arte, ao tratarem de períodos e territórios até então considerados irrelevantes para a disciplina

    - método histórico-comparativo: análise formal combinada ao estudo das fontes documentais

    - estudos principalmente fundamentados na arquitetura, nos elementos de ornamentação e nas chamadas “artes menores”

    OBS IMPORTANTE: sobre considerá-los como “multiculturalistas” avant la lettre – texto de Matthew Rampley, sobre o contexto imperialista no qual esses autores produziram e o significado, para eles, desses outros aspectos da produção artística

     

    Outros historiadores da arte

    - Max Dvórak: que junto com um seu aluno, Frederik Antal, faria parte do chamado “Sontagskreise” em torno de Georg Lukács

    * estudos sobre o colecionismo e o mecenato durante o Renascimento

    - Arnold Hauser (também ligado ao Sontagskreise): história social da arte – teorias marxistas aplicadas à pesquisa em história da arte

    - Ernest Gombrich e Erwin Panofsky: ciência da arte (Kunstwissenschaft) e psicologia da forma

    OBS: ver dois artigos de Frederik Antal no Burlington Magazine, 1946 - “Remarks on the Methods of Art History” - reafirmação da História da Arte como disciplina histórica


    Indicações de leitura:
    Sobre a Escola de Viena:
    Christopher Wood, Introdução In: The Vienna School Reader. Nova York: Zone Books, 2000. 
    Matthew Rampley, "Art History and the Politics of Empire: Rethinking the Vienna School", The Art Bulletin, vol. 91, no. 4 (December 2009), p. 446-462. 

    ANTAL, Frederick. “Remarks on the Methods of Art History, part I”, The Burlington Magazine, vol. 91, no. 551 (February, 1949), pp. 49-52.

    ______________. “Remarks on the Methods of Art History, part II”, The Burlington Magazine, vol. 91, no. 552 (March, 1949), pp. 73-75.



  • Aula IV

    DIA 28/03/2017 - A crise da disciplina

    1ª Parte: Texto Frederik Antal, “Remarks on the Methods of Art History” (I e II), The Burlington Magazine (1949)

    1a. afirmação importante: História da arte como disciplina histórica

    - Para ele, na primeira metade do séc XX existem duas grandes vertentes na história da arte:

    1- Formalista (Wölfflin)

    2- Desenvolvimento histórico do estilo → Escola de Viena (Riegl, Dvorák, Wickhoff) - fala mais dos trabalhos de Dvorák e inclui os estudos de Warburg nessa tendência (muito embora este seja mais associado à psicologia e antropologia)

     

    2ª afirmação importante:

    - Temas tradicionais da História da arte (Antiguidade e Renascimento) passam por novas leituras. Novos estudos sobre a questão do mecenato, do sistema das artes, das condições de trabalho dos artistas, para a história do gosto

    - Essas novas proposições surgem de “fora para dentro”, isto é, a partir de estudos considerados menores (maneirismo, barroco, artistas dos séculos XVIII e XIX)

    - Estudos na história mais recente da arte – Herbert Read e Meyer Schapiro

     

    3ª afirmação importante:

    - Antal diferencia crítica de arte (apreciação/análise estética - objeto artístico como fruição) e história da arte (análise histórica - objeto artístico como DOCUMENTO, independentemente de sua qualidade)

     

    4ª afirmação importante:

    - Necessidade de atualização dos métodos da disciplina

    - Predomínio das tendências formalistas, segundo ele, que precisariam ser revistas

     

    Obs.: - Antal é um autor relevante para o pensamento de Walter Zanini;

    -          Era importante resgatar esse pensamento sobre a disciplina em um momento de diáspora de intelectuais para fora da Europa

     

    2ª Parte: Sistematização do desenvolvimento da História da arte

    - Questão da Tradição Clássica e relação da cultura da Idade Moderna com as raízes greco-romanas -> Disciplina Humanista

    - Obra de Arte como documento e como expressão

    - Ciência da Arte ↔ Ciência da Cultura

    - Texto ↔ Objeto (Obra)

    - História da Arte como História da Evolução das Formas e Estilos X História da Arte como História Iconográfica/Iconológica (cotejamento entre objeto artístico e fontes documentais)

    - A tradição da imagem no ocidente é dividida em: Conteúdo (iconografia, tema, motivo) e Forma (estilo, movimento, escola)

    - Separação entre história da arte (reflexão) e Conservação/catalogação (técnicas e materialidade)

     

    - Estilo e “Movimento artístico” são noções completamente diferentes (oriundas de práticas artísticas que se confrontam):

    Estilo → na história tradicional da arte, noção essencial para o trabalho metodológico, vinculado não só ao reconhecimento de características próprias a um artista, a um período e a um ciclo de artistas ou grupo de artistas (escola), mas também a uma das atividades primordiais principalmente a partir do século XIX que é a questão da autenticação (Connoisseurship – Bernard Berenson) -> Atualmente em desuso – se faz menos uma história da arte de estilos e escolas, e mais dos objetos artísticos analisados no contexto mais amplo

    Ideia de “movimento artístico” ou “corrente artística” → experiência das vanguardas históricas do início do século XX (Opõe-se à noção de estilo ou escola, na medida em que questiona uma formulação unívoca de aprendizado e referenciação da tradição artística)

     

    Referência feita em aula: Martin Warnke, "O artista da côrte. Os antecedentes do artista moderno". São Paulo: Edusp, 2001.

     

     


  • Aula V

    DIA 04/04/17 - Historiografia da arte no Brasil – a questão da história da arte moderna

    ATENÇÃO: Excepcionalmente, esta aula será realizada na Cidade Universitária, no prédio antigo do MAC USP.  

    Leitura: Luiz Marques, Claudia Mattos, Mônica Zielinsky et Roberto Conduru, « Existe uma arte brasileira? », Perspective URL : http://perspective.revues.org/5543 ; DOI :10.4000/perspective.5543

    Historiografia da arte no Brasil

    Institucionalização da História da Arte

    - Primeiros cursos de pós: década de 1980

    - Primeiros cursos de graduação: final da década de 1990 e início do século XXI

    - Arte-educação como disciplina específica

    - TRÊS ASPECTOS importantes, que acabaram dando certa peculiaridade à historiografia da arte entre nós:

    1) O ensino da história da arte instaurou-se, inicialmente, na Academia Imperial de Belas-  Artes no RJ e nas escolas de formação artística

    2) Caráter ensaístico dos textos que formaram o corpus da reflexão sobre a arte no país

    3) Constituição da historiografia pela atividade da crítica de arte (atividade anterior à institucionalização universitária, ao contrário da Europa, onde as duas atividades ocorreram em paralelo)

     

    Objetos de estudo

    - Arte do período colonial brasileiro

    - A pintura acadêmica do século XIX (Vista originalmente de forma negativa, atualmente está sendo reavaliada)

    - Arte Moderna no Brasil

    - Arte Contemporânea

    - Outras artes (arte indígena e arte africana)

    Obs: - Na Europa a história da arte se iniciou com os estudos da produção clássica

     

    Desafios da disciplina

    - Questão da “arte brasileira” e da existência de uma tradição artística

    - O modernismo brasileiro como paradigma para a narrativa da arte no Brasil - é através da posição dos modernistas que se desenvolve a narrativa (necessidade de reavaliação dos autores como fonte histórica, não apenas como referência de pesquisa)

    - Os estudos comparativos

    - As referências para a historiografia da arte no Brasil - No país os primeiros cursos de pós estavam ligados aos departamentos de artes visuais, ou seja, a disciplina se forma mais ligada ao ambiente artístico que ao humanista (ao contrário do caso da Europa e dos EUA que surgem ligados aos estudos humanistas).

     

    Walter Zanini e a História da Arte no Brasil

    - Curadoria e história da arte contemporânea: estratégias no MAC USP:

    Exposições, ampliação do acervo e documentação

    Visão retrospectiva (arte moderna) e visão prospectiva (arte contemporânea) – Museu fórum X museu templo

    - Introdução a História Geral da Arte no Brasil (1983):

    Função fundamental de unir em uma publicação o que estava sendo produzido nas universidades

    Definição de arte → para além da cultura ocidental

    Contexto social que determina a prática artística

    Problema do descompasso → Relações de Força (centro X periferia)

    Objetos de estudos são outros

    Narrativa marcada pela experiência modernista

    - Zanini chega na Europa, para sua especialização, num momento muito importante para a história da arte:

    consolidação da disciplina nas universidades europeias e norte-americanas;

    divulgação das teorias warburguianas (Aby Warburg) e atividades do instituto ligado à Universidade de Londres;

    revisão metodológica que passa pela ideia de uma história social da arte:

    -       Arnold Hauser

    -       Frederick Antal – referência para Zanini e suas aulas de teoria e metodologia em História da Arte – ver “Remarks on the Methods of Art History”, 1949

    -       Francis Haskell

     

    Texto Luiz Marques

    - Pesquisador da arte italiana do quattrocento

    - Partindo da história tradicional, questiona noção de arte brasileira - o nacional não pode ser visto como critério para analisar/avaliar arte (subliminarmente se situa em uma vertente de história da arte que tem como critério a qualidade)

    - Desenvolve que na noção de arte brasileira existe a construção de uma ideologia (mas não desconstrói identidades europeias)

    Obs.: - Toda busca por origem é necessariamente uma invenção (Tradição clássica também não é unívoca, é uma invenção anacrônica)


  • Aula VI

    DIA 11/04/17 - Seminários: Heinrich Wölfflin e Ernst Gombrich

    Seminário Wölfflin - Introdução de Conceitos fundamentais de história da arte

    - Buscava uma teoria do objeto artístico - a teoria expressa nesse texto é resultado de dois livros anteriores importantes: Renascença e Barroco (1888); A Arte Clássica (1898)

    - seu pensamento é criado em torno da análise de arte italiana

    - “Ao lado do estilo pessoal, deve-se considerar o estilo da escola, o estilo do país, o estilo da raça” - busca explicações que vão além do temperamento do artista, por este não se explicar por si só.

    - O artista para ele é uma questão secundária, dando ênfase às questões de estilo nacional e estilo de época para explicar obras artísticas - propõe uma história do estilo/ das formas.

    - Contexto é importante para identificar essas formas.

    - É papel da História da arte identificar essas transformações das formas

    - Lógica cientificista: busca uma lei que operaria em todas as transformações da história da arte

    - Propõe que a transformação do estilo renascentista para o barroco é aplicável à história da arte como um todo. Ou seja, toma os fenômenos do Renascimento e do Barroco como unidades de estilo que serviriam de modelo para a evolução das formas ao longo da história da arte ocidental, que se refletiriam em duas grandes vertentes dessa tradição: a linear (Renascimento/arte clássica) e a pictórica (Barroco)

    - Utiliza como metodologia a comparação entre obras de arte - metodologia de uma história da arte voltada para o objeto artístico ( essa comparação é feita como uma ciência da arte, algo muito diferente da prática do Connoisseurship )

     

    Seminário Gombrich - Introdução de Arte e ilusão

    - Como aluno da escola de Viena tem como legado o projeto de identidade, porém vive um momento de crise da idéia de estado-nação.

    - Texto escrito nos anos 60, ou seja, em um contexto em que a disciplina de história da arte está entrando em crise.

    - O autor volta-se para o início da história da arte, que ele localiza no século XV (é um especialista em Vasari) - Fundamental em um momento de crise.

    - Se contrapõe a Riegl, uma vez que pretende analisar a técnica, em vez de separá-la da arte (analisa sua repetição e evolução).

    - Continua pensando uma narrativa ocidental baseada na lógica do progresso (evolução) – Por ex.: Arte egípcia entendida como estágio infantil ou pré-histórica.

    - Se aproxima da psicologia da percepção, mas no fundo pensa um problema análogo ao de Wölfflin - busca um sentido da história do estilo ( desconstrói hierarquia dos períodos).

    - Entretanto, Gombrich desloca o problema: Questão da subjetividade da visão pessoal; História da arte é uma História da visualidade, que por sua vez é calcada na cultura e sociedade em que se insere - Para obter esta visão, ultrapassa as referências de sua disciplina e dialoga com uma psicologia da percepção.

    - Desloca o conceito da representação e assim pode incluir na análise a arte abstrata

    - O erro da história da arte para ele é que o problema da representação não é apenas um problema da cópia da natureza, é preciso ir além disso.

    - Pensa a recepção da história da arte - explora o fazer e apreender.

     

    Considerações finais:

    - Wölfflin vem sendo reconsiderado por ter se afastado de um discurso nacionalista no contexto do pangermanismo durante 1ª Guerra Mundial, teorizando sobre um universalismo

    - Tanto Gombrich quanto Wölfflin defendem uma teoria universalista, com intuito de abranger vários territórios e períodos

    - Ambos trabalham o mesmo conjunto de problemas que o renascimento italiano inaugurou.

    - A diferença fundamental entre Gombrich e Wölfflin é que para o último o “temperamento”  é inato, vem da essência humana, enquanto que para o primeiro este “temperamento” é culturalmente informado.

    - A idéia de estudar estes autores é menos de aplicá-los diretamente nas pesquisas que fazemos, e mais de entender como foi construído o discurso da disciplina, como ela se desenvolveu.

    - Técnica de comparação e descrição são base do trabalho de historiador da arte.

    - A partir dessas considerações, duas questões finais foram levantadas: É possível se fazer uma história da arte geral?; Qual é o historiador da arte hoje que consegue se debruçar nessas questões amplas? - Entretanto, foi pontuada a necessidade de se pensar essa história da arte geral na tarefa prática de como ensinar a disciplina

     

    Indicações de leitura:

    Capítulo 3 (Wölfflin) pp. 43-53

    Capítulo 9 (Gombrich) pp. 117 a 127

    em SHONE, Richard & STONARD, John-Paul. The Books that shaped Art History.


  • Aula VII

    DIA 18/04/17 - Seminários: Erwin Panofsky e Georges Didi-Huberman

    Considerações feitas a partir dos seminários:

    - Panofsky faz um julgamento de valor ao analisar a arte/cultura da Idade Média como falta de consciência histórica, que, segundo ele, foi alcançada pelos homens do Renascimento.

    - Tanto Didi-Huberman quanto Panofsky estão propondo uma metodologia, é importante ressaltar como ambos possuem como interlocutores eruditos (estão falando para outros especialistas na disciplina). É a partir dessa erudição que Didi-Huberman propõe não tentar apreender a imagem, mas se deixar apreender pela imagem, se despindo do saber e encarando o objeto.

    -Didi-Huberman aponta que a disciplina vem sendo construída sob o pressuposto de encontrar verdades. Enquanto Panofsky apresenta sua análise como leitura definitiva do objeto, Didi-Huberman ressalta o caráter histórico da disciplina (camadas de leitura vão transformando este objeto para nós), denunciando este tom de certeza. Segundo Didi-Huberman, a disciplina não pode continuar se baseando nos princípios Kantianos (que são referência para Panofsky, ainda que não declaradamente).

    -A partir dessas considerações, Didi-Huberman busca a metodologia freudiana como forma de se despir da metodologia anterior da história da arte e pensar a questão de uma nova forma.


  • NÃO HAVERÁ AULA

    DIA 25/04/17


     
  • Aula VIII

    DIA 02/05/17 - Seminário: Hans Belting

    Considerações feitas a partir do seminário:

    - Texto originalmente feito em 1983 para a aula magna quando Belting assume a cátedra em Munique, chamado “O fim da história da arte?” consistia em uma balanço da disciplina, feito para os alunos (com uma função muito semelhante ao texto do Panofsky);

    - Como estudioso de arte medieval, desenvolve esta idéia de “eras” e possui essa compreensão de história da arte como história das mídias (dos suportes: pintura, escultura, etc);

    - Belting identifica o problema da dificuldade de lidar com o “outro” na narrativa do museu de arte, mas não aponta solução no texto - A exposição de 2011 no ZKM pode ser compreendida como uma tentativa de “solução” apresentada na prática;

    - Identifica ruptura entre: história da arte, narrativa da arte, narrativa que se projeta nos museus e, ainda, a narrativa que se escreve nesse espaço quando não se deseja mais reproduzir essas narrativas. Este problema está ligado ao rompimento entre a narrativa da arte como representação  da história do estado nação e o museu de arte moderna (agravado no museu de arte contemporânea);

    - Um certo modo de apresentação da cultura que parecia muito eficaz nos séculos XVIII e XIX, hoje se sabe que não funciona;

    - Questão de toda arte moderna ser produzida para o museu - lugar privilegiado de apresentação da obra;

    -Arte contemporânea mesmo questionando precisa da instituição do museu para se contrapor a ela;

    - O museu se coloca a questão da preocupação com a relação entre o local e o global: Intenção globalizante, mas materialidade é local;

    - Questão da diáspora: objetos se produzem no deslocamento, assumindo outras dimensões. Além disso, nem sempre isso ocorre por vontade própria, é preciso considerar a violência da presença de certos objetos em alguns territórios;

     


  • Aula IX

    DIA 09/05/17 - Seminários: Arthur Danto e Clement Greenberg (Avant-Garde and Kitsch)

    Considerações feitas a partir dos seminários:

    - Danto vai partir de uma teoria da arte moderna que toma a atitude vanguardista como aquela definidora do modernismo (Peter Bürger é um dos autores que consolidaram esta visão de que a atitude da arte moderna é a das vanguardas históricas);

    - Diferenças entre Danto e Belting:

    Danto: Está dialogando com o meio artístico norte-americano; Preocupado com uma teoria da arte contemporânea e de como interpretar objetos produzidos pós-anos 60; Está interpretando os artistas;

    Belting: Não se preocupa em teorizar arte contemporânea; seu problema é de método: Como nessa nova era, não mais da arte, a arte (inclusive a anterior) pode ser analisada; Não dialoga com os EUA; Como um historiador, está pensando o problema da história/teoria da arte; Busca elementos nos artistas contemporâneos para ajudar a abrir a perspectiva no campo da disciplina

     

    GREENBERG X DANTO

    - Danto entende a história do modernismo como ruptura, enquanto Greenberg entende esta história como continuidade;

    - Greenberg chega para o Brasil nos anos 90 (em um momento de revisão da nossa historiografia), quando já havia sido criticado nos EUA (ou seja, chega mais tarde), como um teórico da arte que contribuiu para a formalização da história da arte;

    - Também foi levantado a questão de que teria sido lido no Brasil nos anos 80, pelos artistas ligados ao movimento de retorno à pintura;

    - O Greenberg deste texto, “Avant-Garde and Kitsch”, ainda não era ligado ao expressionismo abstrato, e muito do que diz nesse texto é oposto aos seus escritos posteriores. Nesse momento ele era um marxista, e está dialogando com o debate de dimensões internacionais sobre o realismo socialista soviético (preocupação com a cultura de massa era um debate importante nesse momento). A defesa que faz nesse texto está alinhada à defesa da arte livre feira por Breton e Trotsky, por exemplo;

    - Nesse momento, Greenberg está no papel de crítico, ainda não está desenvolvendo uma teoria. Está apenas respondendo a uma questão de seu tempo. Entretanto, o autor não perde de vista esta ideia de continuidade e a centralidade da pintura;


  • Aula X

    DIA 16/05/2017 - Seminários: T. J. Clark e J.W. Mitchell

    Considerações feitas a partir dos seminários:

    - Tanto T.J. Clark quanto Mitchell estão preocupados com a relação da história da arte com a vida em seu entorno (sociedade), nesse sentido, o materialismo histórico é importante para ambos;

    - Ambos atualizam os objetos de estudo da história da arte, assim como sua interpretação;

    - T.J. Clark traz outros tipos de documentos e a terminologia da época para compor sua análise, concentrada na relação entre forma e conteúdo. Esta forma de análise também é feita por Argan e Meyer Schapiro, entretanto T.J. Clark ressalta que a forma de proceder do pintor não se altera, entendendo que é o novo contexto social que torna possível novos atributos simbólicos para as técnicas;

    - Nesse sentido, o autor ressalta que o conceito de flatness não é apenas ligado à forma em si, mas que a ela são atribuídos outros valores (ligados à verdade, ao popular e ao moderno);

    - Michael Fried, autor contemporâneo a T.J. Clark, também escreveu sobre a pintura francesa dos anos 1860/70. Ambos recuperam o papel de confrontação que essa produção teve originalmente (uma vez que ela chega até nós atualmente sem conflitos e paradoxos), mas Clark vai além, relacionando a pintura impressionista à classe burguesa urbana e intelectualizada. Dessa forma, T.J. Clark mudou a leitura do impressionismo, mostrando que esta se localiza nas contradições de uma classe social em ascensão;

    - Mitchell reformulou o problema da imagem, se enquadrando no chamado “pictorial turn”. Embora pareça menos político, a preocupação com a biocibernética é uma questão política e importante nos dias atuais, e por isso, ressalta a importância da história da arte para refletir sobre a questão;

    - O desejo das imagens desenvolvido por Mitchell é relacionado à ideia de imagens falantes de Horst Bredekamp (veja-se conferência de Bredekamp para o simpósio “Crise das Imagens”, Instituto Goethe, São Paulo, 2008). Ambos estão relacionados a Latour e sua dissolução das fronteiras entre cultura e natureza;

  • Aula XI

    DIA 23/05/2017 - Seminários: Roberto Longhi (2 textos)

    Considerações feitas a partir dos seminários:

    - A terminologia “plasticidade da forma” é um termo de Longhi que depois se tornou muito usual na história da arte

    - Longhi embasou compras para a coleção do MASP - troca de cartas entre Longhi e Bardi

    - Longhi, assim como Didi-Huberman buscam levar o leitor ao local da obra, mas Didi-Huberman está preocupado com olhar a obra como ela deveria ser vista antes da era da arte, enquanto Longhi olha como um crítico de arte

    - Artigo de Luís Marques comparando Longhi e Argan na Revista Fevereiro: Ambos formados no mesmo contexto em Turim (Venturi, Benedetto Croce), mas seguem caminhos completamente diferentes.

    Argan - trata a obra de arte como documento

    Longhi - explica fenômenos dos artistas dentro das suas próprias premissas, se aproximando do fazer do artista.

    - Longhi também é diferente de Wölfflin, não tem uma perspectiva histórica nem nas evoluções dos estilos.

    - Longhi dá um papel fundamental à escrita da história da arte, uma vez que seu papel é traduzir a obra para a linguagem escrita

    - É um autor que está no debate italiano que chega no contexto brasileiro, por mais que tenha demorado para ser traduzido

    - Convive com as obras que analisa - tem facilidade de locomoção dentro da Itália para vê-las ao vivo

    - Deseja se colocar também em um lugar semelhante ao de Bernard Berenson como connoisseur, tenta caminhar nessa trajetória - atua com galeristas, colecionadores, fazendo atribuição de obras

    - Giotto e Piero della Francesca estão sendo retomados por artistas contemporâneos a Longhi, que responde a isso.

    - Trabalha com artistas considerados menores, em relação a Michelangelo, Rafael e Leonardo, atuando em um nicho que ninguém havia se debruçado antes - Recuperou Caravaggio

    - Gosto - conceito importante para Venturi e Longhi, mas não é importante para ciência das imagens (Warburg e escola de Viena). Para Venturi, o gosto está associado ao contexto histórico, enquanto para Longhi está associado à qualidade inerente ao objeto de acordo com determinadas premissas. O gosto reside na defesa daquilo que eles entendem como um conceito muito maior de arte e possui objetividade, defendida com um rigor acadêmico, por isso pode ser usado como conceito.

    - Longhi estabeleceu um modelo para monografia de artistas se equiparando ao modelo da coleção “Arte moderna italiana” - é uma coleção que além da análise da obra do artista, contém o histórico das exposições do artista, biografia atualizada, cronologia de sua vida, levantamento de obras com o histórico de atribuição (esta forma de documentação foi um marco para a História da arte italiana e fundamental no contexto de evasão das obras do país.)

    Refência feita em aula sobre a história do gosto:

    Francis Haskell, Past and Present in Art and Taste. Selected Essays. New Haven/London: Yale University Press, 1987.

  • Aula XII

    DIA 30/05/2017 - Lionello Venturi – apresentação Marina Barzon Silva e seminário texto “História da crítica de arte”

    1ª parte da aula: Apresentação Marina Barzon Silva

    - Venturi cria uma proposta metodológica que pretende ser capaz de analisar a produção moderna, algo que não era possível com a estética de Benedetto Croce. Essa nova proposta trata a produção contemporânea ao autor como objeto histórico.

    - Defende uma disciplina histórica e não filológica

    - Se opõe às poéticas do retorno à ordem por desenvolverem questões de identidade nacional, defendendo uma linguagem universal.

    - Discorda de Roger Fry, não concordando que impressionismo e pós-impressionismo retomam a arte clássica

    - Em “O gosto dos primitivos” se concentra no estudo do primeiro Renascimento, especialmente Giotto. Na obra, busca desenvolver um juízo dos sentidos para aplicar à história da arte.

    - Caracteriza a disputa entre classicismo e romantismo como um debate de conteúdo, não de forma (Apenas com o impressionismo que se inicia um debate de forma na história da arte).

    - O conceito de primitivo segundo ele acaba com essa dualidade.

    - Desenvolve o conceito de abstrato-concreto como alternativa para pensar a dualidade entre figuração e abstração

    - Para ele, qualquer obra de arte é ao mesmo tempo concreta (por precisar do sentimento do artista) e abstrata (capacidade de se distanciar da mimese - característica necessária para verdadeira obra de arte)

    - Defende a união da história da arte com a crítica de arte

    - Presença do Venturi filtrada pela crítica brasileira - Pedrosa cita o autor.

    - Foi homenageado no congresso da AICA em 1961 após a sua morte.

     

    Considerações feitas a partir da apresentação e do seminário:

    - Parte da ideia de juízo crítico de Kant

    - Afirma que história da arte não pode defender uma vertente artística, como faz os críticos.

    - Atuou como crítico e consultor na formação da coleção de Riccardo Gualino, que após sua prisão durante o fascismo, teve sua coleção leiloada. O “Autorretrato” de Modigliani do MAC veio dessa coleção.

    - Venturi desloca o problema da história arte, ultrapassando a obra e o artista e incluindo a dimensão do contexto histórico, sem abandonar a consideração do trabalho do artista.

    - Enquanto Wölfflin, em sua história linear das formas, sugere que as formas evoluem e só podem ser desenvolvidas dentro de determinado período da história da evolução da técnica;  para Venturi, as formas são escolhas do artista, e estão dadas. Não parece haver, em Venturi, a ideia da evolução ou progressão das formas.

    - Em relação a Panofsky, Venturi tem uma visão mais dialética entre produção artística e contexto histórico, uma vez que o artista contribui na construção do gosto. Enquanto para Panofsky, a produção é um sintoma de seu contexto.

    - Venturi está escrevendo em um momento em que a questão do universal está em voga na própria proposição dos artistas (Kandinsky, Klee), o valor do universalismo é uma questão para o modernismo.

  • Aula XIII

    DIA 06/06/2017 - Seminários: Argan (texto Arte e crítica de arte)

    Considerações feitas a partir do seminário:

    - Argan parte de Venturi - União da crítica com a  história da arte

    - O livro “Arte e crítica de arte” de 1985 se insere em um momento de balanço para Argan, que como historiador da arte já estabelecido, está organizando coletâneas de seus ensaios.

    - Livro dividido em uma primeira parte que faz um panorama da arte do século XX e em uma segunda parte em que o autor revê a historiografia da arte

    - O autor dá grande importância à arquitetura e design na arte do século XX, dando um peso ao pensamento projetual.

    - Defende o que ele chama de “crítica de arte militante”, em oposição à “crítica de arte de corrente” que faz a defesa de alguns grupos e artistas. A “crítica militante” é fundamental para garantir a relação entre arte e sociedade - que nesse momento ele acredita que precisam ser reconciliadas.

    - Em um artigo, chamado “Salvação e queda da arte moderna” (1961),  sobre abstracionismo para uma revista que fazia uma enquete com diferentes críticos da arte e artistas, Argan argumenta que o abstracionismo é fruto de uma sociedade em crise (anos 60) em que os artistas perdem sua função nessa sociedade. Nesse artigo condena o informalismo em geral, mas principalmente o expressionismo abstrato norte-americano, e seu uso pela política externa de hegemonia dos EUA. O artigo parece rebater o texto “Pintura modernista” (1961) de Greenberg, que foi transmitido pela rádio norte-americana em várias partes do mundo em um programa chamado “The voice of America”, em que claramente a defesa do expressionismo abstrato estava associada à política de imperialismo e o contexto da guerra fria. Referência sobre esta questão: artigo de Francis Frascina, “Institutions, culture and America’s ‘cold war years’: The making of Greenbergs’ ‘modernist painting’

    - Pedrosa também tem em mente essas questões quando defende a arte construtiva para um projeto de nação moderna brasileira em oposição ao informalismo. Em “Discurso aos tupiniquins ou nambás” (1975) também trata essa arte contemporânea a ele como sintoma de crise. Não é propriamente uma condenação dessa produção, mas do sistema da arte e da mercantilização desse sistema.

    - Argan e Pedrosa falam da pós-modernidade como crise de narrativas. Mas são diferentes de Belting e Danto, Argan tem militância, acredita que é preciso salvar a arte (A arte é vista como salvação da humanidade). Já Danto e Belting fazem um diagnóstico.

    - Danto e Belting separam crítica de história da arte. Na visão de Argan, Danto seria um crítico de corrente, escolhendo com o que vai trabalhar, enquanto Belting seria um herdeiro da crítica da imagem.

    - Argan é melancólico com este diagnóstico, e propõe o resgate de alguns valores da modernidade.


  • Aula XIV

    DIA 13/06/2017 -  Texto Griselda Pollock

    Griselda Pollock:

    - Formada em Oxford como historiadora (desde o início envolvida com o movimento feminista)

    - Dialoga com a perspectiva da História social da arte e do materialismo histórico (T.J. Clark)

    - Fez parte da primeira geração que introduziu essas questões na disciplina nos anos 70, assim como Linda Nochlin.

    - No Brasil, a questão feminista é introduzida na ciências sociais nos anos 70. Entretanto a questão só começou a ser colocada no campo da história da arte recentemente. A pesquisadora da Usp, Ana Paula Simioni é uma das pioneiras nesses estudos

    - Publicações importantes de Griselda Pollock:

    1977 - “What is wrong with images of women?”

    1988 - “Vision and difference” - Sobre as pintoras impressionistas (em um momento de revisão da história do impressionismo). Partindo da definição dessa pintura como uma questão da visão, acrescenta a particularidade da condição feminina nesse momento.

    1999 - “Differencing the canon: feminist desire and the writing of art’s histories” - tratar o tema a partir desse conceito de diferença

    - Nochlin colocou o problema da representação da figura feminina e da presença de mulheres artistas, Pollock abriu espaço para outras questões, desenvolvendo a ideia de que o lugar da mulher é caracterizado pela diferença

     

    Dealing with Degas :

    - Coloca o problema da atualização desses objetos para nós: não é só diálogo puro e simples com essa historiografia, mas inclui a projeção do desejo dela como historiadora da arte feminista - História da arte deve estar ocupada em entender esses objetos/artistas voltados para o presente, não fazer apenas uma espécie de arqueologia do passado

    - Degas: Tanto artisticamente, como politicamente opera entre a tradição e a modernidade. Figura complexa, com muitas contradições em sua biografia, marcada pelo antissemitismo e a misoginia.

    -  A partir desse objeto específico, o desenho “Woman with a Lorgnette”, lança uma questão para envolver outros objetos e chegar à Mary Cassatt, centro de sua análise.

    - Descreve suas sensações quando encontrou essa obra, e desenvolve desde a escolha do objeto da análise esse lugar da diferença (propõe ler essas obras a contrapêlo)

    - Sobre a representação, a autora sugere que a figura está grávida e que talvez possa ser a irmã de Degas. Também interpreta uma monstruosidade que viria do uso dos binóculos (associando com teorias dos estudos de cinema). Este olhar seria ameaçador pela mulher se descobrir observada por ele e sustentar o olhar de volta.

    - Mary Cassatt, como mulher artista que convivia com Degas, poderia significar esse olhar feminino como ameaçador (O artista desafiou Cassatt a fazer uma pintura boa o suficiente para que provasse a capacidade dela, enquanto mulher, de pintar)

    - Pollock lança mão das teorias de Lacan sobre o olhar e sua relação com a identidade para reinterpretar essas obras - identidade é uma via de mão dupla, não parte apenas do indíviduo, também tem que ser reconhecida por outra pessoa.

    - Diferenças entre: To look - Olhar/ver; To gaze - fitar, olhar com intensidade; To ogle - Olhar com desejo, que invade;

    - Utiliza o termo em francês para binóculo, lorgnette, por vir da idéia de escrutínio.

    - Sobre o estudo “woman with a lorgnette” que apresenta a figura inteira, Pollock argumenta que a roupa toda em preto, o fundo vermelho, a silhueta triangular e o reflexo do binóculo acentuam a monstruosidade e o olhar invasivo. É uma figura agressiva e não passiva. Toma-se por hipótese que Lyda, irmã de Mary Cassatt seja modelo da figura.

    - A figura feminina com o binóculos teria sido feita como parte integrante de uma das composições de Degas, sobre o motivo da corrida de cavalo. Em “ At the race track” as figuras estão na pista esperando o início da corrida, é uma cena de bastidor (característica dos temas de Degas). Na pintura, retrabalhada como muito de seus quadros, Degas apagou a figura feminina de binóculo - Pollock vê nisso um incômodo que não seria consciente.

    - Ela analisa o indíviduo de forma psicanalítica, mas tem em vista que este indivíduo é formado em sociedade - desejo é construído social e politicamente

    -Individualizar Degas coloca ela de igual para igual com ele

    - Ela sugere que a obra “Woman at the opera” de Cassatt, geralmente lida em comparação com “La loge” de Renoir, seja interpretada como uma resposta da artista ao desenho de Degas;

    - Se coloca a questão: Afinal de contas o que é esse desejo feminino também? - Nesse sentido a obra de Cassatt representa uma mulher que se sabe observada, mas ignora este olhar, se mostrando preocupada com seu próprio desejo - A artista também é um personagem ativo, dialogando e respondendo aos artistas de sua época. Ela estaria pedindo a esses contemporâneos que olhassem para esse contexto por outra chave.

    - Apesar de existir uma série de obras de Degas representando Cassatt e a irmã, Pollock não as utiliza em sua argumentação. - Interessa para ela Cassatt enquanto artista, não enquanto modelo.

    - Pollock mostra como é importante se colocar na condição do Outro para poder compreendê-lo.

    - Pollock não faz a simples defesa da quantidade de mulheres no museu, mas desse outro olhar, outras vozes e desejos.

    - A autora recorre a outras disciplina para fazer sua análise, uma prática que possui tradição dentro da história da arte.

    - Todas as obras analisada são pinturas francesas presentes, em sua grande maioria, em coleções britânicas e norte-americanas

    Referências feitas em aula:

    Mark Antliff & Patricia Leighton, "Primitive" e Whitney Davis, "Gender" - capítulos do livro "Critical terms for art history"

  • AULA XV

    DIA 20/06/2017 - PROVA FINAL

    Ao voltar das férias, a Profª Ana Magalhães estará à disposição para aqueles que queiram ver a correção da prova.