Aconselhamento genético


Um aspecto extremamente importante no atendimento aos pacientes com alguma doença genética hereditária é o diagnóstico precoce, que permite o aconselhamento genético preciso. Este deve oferecer as informações necessárias para prevenir e tratar as complicações mais frequentes nessas doenças, e ajudar na tomada de decisões reprodutivas.

O primeiro ponto importante para o aconselhamento genético é a definição do diagnóstico. Nesse sentido, os testes genéticos vêm ganhando um grande destaque. Uma das aplicações mais óbvias das informações geradas pelo Projeto Genoma Humano (PGH) está em prever e diagnosticar doenças genéticas. Várias centenas de testes genéticos estão disponíveis e seu número deverá aumentar significativamente na próxima década. Atualmente, já estão disponíveis os testes genéticos para detectar mutações em doenças genéticas hereditárias, como fibrose cística, doença de Huntington, distrofia muscular de Duchenne e anemia falciforme. Esses testes não detectam todas as mutações associadas à doença, mas grande parte das mutaçoes mais frequentes associadas a cada doença. Com as informações adicionais fornecidas pelo PGH, vem crescendo o potencial para detectar mutações ainda desconhecidas.

Além disso, alguns testes genéticos que permitem que os indivíduos monitorem ou evitem certos tipos de câncer também já se tornaram disponíveis recentemente. Dada uma história familiar de câncer de mama, câncer do cólon ou câncer de ovário, os indivíduos podem optar por serem examinados quanto à presença ou ausência de mutações preditivas no seu genótipo. As informações obtidas a partir desses testes preditivos podem ajudar médicos e pacientes a controlar e prevenir o aparecimento da doença.

Uma vez alcançada a definição exata do tipo de doença genética, o aconselhamento genético segue os princípios básicos de herança autossômica dominante ou recessiva.

Nas doenças autossômicas recessivas, os pais geralmente são portadores heterozigotos de uma das mutações. Quando há consangunidade, os pais terão a mesma mutação herdada de um ancestral comum. Portanto, para os pais de uma criança com uma comprovada forma de doença autossômica recessiva, há um risco de recorrência de 25% para um futuro filho do casal ser afetado pela mesma doença (e portador da mesma mutação). Irmãos e irmãs da pessoa afetada terão 2/3 de chance de serem portadores. Outros membros da família também podem ser portadores de um alelo mutado; no entanto, para estes parentes, é baixo o risco de uma prole afetada, pois a maioria das mutações recessivas são muito raras e é muito baixa a probabilidade de um portador da mutação escolher, ao acaso na população geral, um parceiro também portador da mesma mutação. O risco de ter outra criança afetada é aumentado em populações com efeito do fundador e onde haja consanguinidade. Portanto, um aconselhamento genético específico e cuidadoso é necessário e deve explicar os riscos nessas situações.

Nas doenças de herança autossômica dominante, quando uma família de muitos membros e com sinais clínicos óbvios é diagnosticada, o aconselhamento genético é mais evidente. Indivíduos afetados têm risco de 50% de transmitir a doença para a sua prole. Em casos em que é possível identificar a mutação causal, podem-se oferecer testes preditivos e diagnóstico pré-natal para a doença. Há, entretanto, várias situações em que o aconselhamento genético pode ser mais complexo. Em alguns casos, as mutações dominantes podem ser não-penetrantes ou podem causar doenças de manifestação tardia, o que pode complicar o diagnóstico. Em muitas doenças de herança autossômica dominante, mutações raras de sentido trocado podem não deixar evidente a determinação de sua patogenicidade. Também pode ser difícil fornecer uma previsão de prognóstico. Para a maioria das doenças deste grupo, a possibilidade e a importância de um diagnóstico pré-clínico também devem ser cuidadosamente analisadas. Um diagnóstico pré-clínico geralmente é recomendado apenas quando é possível alguma prevenção clínica das complicações, ou se esta informação é importante para as decisões reprodutivas. Nesses casos, o paciente deve ser muito bem apoiado, psicológica e clinicamente. Com a definição do diagnóstico e identificação das mutações causadoras, o diagnostico pré-natal também é possível e as opções para o diagnóstico pré-implantação podem ser discutidas com a família, de acordo com a disponibilidade local.

As doenças de herança ligada ao X se caracterizam por afetar predominantemente indivíduos do sexo masculino. O alelo mutado pode ser transmitido por mães portadoras que são assintomáticas, quando a doença é recessiva. Essas mulheres portadoras têm um risco de 50% de transmitir a mutação para um filho do sexo masculino, e 50% de transmitir para uma filha, que será também portadora. Quando o paciente afetado chega a se reproduzir, ele irá transmitir o alelo mutado para todas as suas filhas, que serão portadoras. Nenhum dos filhos será afetado, visto que recebe do pai o cromossomo Y.

Na espécie humana, inúmeros genes situados no cromossomo X causam doenças, quando mutados. Dentre eles, podemos citar os relacionados ao daltonismo, hemofilia e distrofia muscular progressiva de Duchenne.


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