Seres vivos

Os primeiros seres vivos da Terra

Apesar de a teoria da Biogênese ser amplamente aceita, sabendo-se que um ser sempre deriva de outro ser pré-existente, uma pergunta ainda persistia: mas qual foi o primeiro ser no planeta? Esse ser é o progenota, que é o último ancestral comum de todos os seres vivos. Logo de início, uma questão básica emerge sobre o metabolismo energético de tal ser: ele seria autótrofo ou heterótrofo? Atualmente, a hipótese mais amplamente aceita é a de que o progenota seria heterótrofo, dada a complexibilidade metabólica envolvida nos processos de foto e quimiossíntese.

A interessante hipótese proposta, quase simultaneamente e de forma independente, pelo russo Ivanovich Oparin e o inglês Sanderson Haldane está inserida nessa perspectiva. Essa hipótese postula que os aminoácidos teriam sido produzidos a partir de moléculas carbonadas mais simples num ambiente redutor. Outro cientista, Harold Urey, já havia sugerido que a atmosfera da Terra, em sua origem, era parecida com a dos planetas gasosos, ou seja, redutora, rica em amônia, hidrogênio e metano. Um ilustre aluno de Urey, o norte-americano Stanley Miller, montou, em 1953, o clássico experimento simulando a atmosfera primitiva da Terra: gases de amônia, metano e hidrogênio passavam por uma câmara com descargas elétricas. O gás resultante era, então, condensado num recipiente de água e evaporado novamente, num ciclo contínuo. Como resultado, formou-se um precipitado rico em aminoácidos.

Podemos apontar dois entraves no experimento de Miller:

- estudos da década de 70 indicam que a atmosfera da Terra nunca foi redutora;

- o experimento nunca produziu nada mais complexo do que aminoácidos e, portanto, está longe de ter produzido algum ser vivo.

Se é difícil encontrar um ambiente favorável à formação de aminoácidos na Terra primitiva, o experimento de Miller se mostra bastante aplicável em ambientes fora do nosso planeta. Certos tipos de meteoritos contêm boa quantidade de aminoácidos semelhantes aos produzidos no experimento de Miller. Os cometas são ricos em compostos orgânicos e poderiam ter trazido aminoácidos nas últimas fases de formação da Terra. Os fragmentos pequenos, especialmente a poeira cometária, não geram muito calor ao caírem. Assim, os aminoácidos teriam sobrevivido à queda. Atualmente, cerca de 40 mil toneladas de poeira cometária caem na Terra por ano. Esse fluxo deve ter sido cem a mil vezes mais elevado nos primórdios da Terra!!! É, ainda hoje, uma quantidade muito grande, não é? Você imaginava isso? Esses fatos reforçam a hipótese conhecida como Panspermia (ou origem extraterrestre). A questão ainda difícil de responder é se o aporte de aminoácidos de fora da Terra teria sido suficiente para originar a vida por aqui.

Até o presente, não existem evidências de um ambiente, ou mesmo de um conjunto de condições, que pudessem contemplar a variedade de compostos orgânicos necessários à origem da vida. É possível que tenha havido a contribuição conjunta de diferentes processos ocorridos tanto em ambientes interplanetários quanto na atmosfera terrestre, ou mesmo em fontes hidrotermais. Embora essa questão continue em aberto, a origem abiótica de compostos orgânicos essenciais para a vida, como os aminoácidos, está bem embasada em pressupostos teóricos e resultados experimentais.