Autopoiese e Seleção Natural


Tentativas de integrar as duas concepções


Enquanto a definição de vida como seleção natural de replicadores tem seu foco totalmente centrado na evolução, a definição de vida como autopoiese está centrada na ideia de metabolismo. Na tensão entre os aspectos individual/metabólico e coletivo/evolutivo, cada uma dessas definições prioriza um dos lados.

Mas podemos encontrar tentativas de integrar essas duas concepções em uma única definição. Os pesquisadores espanhóis Ruiz-Mirazo, Peretó e Moreno, em 2004, propuseram a ideia de vida como um sistema autônomo com evolução aberta. Mas o que seria isso? Por autônomo, os pesquisadores entendem um sistema longe do equilíbrio, que se constitui e se mantém criando sua própria organização, algo bem parecido com o conceito de autopoiese. Mas, agora, este sistema autônomo tem o potencial de reproduzir sua dinâmica básica, gerando tanto variações dessa dinâmica quanto formas de registro dessas variações (que não precisaria ser somente o DNA, mas poderia ser, por exemplo, a própria estrutura do sistema).

Já Damiano e Luisi propuseram, em 2010, que um sistema vivo é “um sistema capaz de autoprodução e automanutenção, por meio de uma rede regenerativa de processos, que ocorrem dentro de um limite feito por ele mesmo e que recria a si próprio por interações cognitivas ou adaptativas com o meio. Claramente, eles definem “vida” baseados na teoria da autopoiese, mas levando em conta a noção de cognição, ou seja, de interação adaptativa com o ambiente. Assim, relacionam a autopoiese não somente ao metabolismo, mas também à evolução, acalmando muitas das críticas feitas a essa noção de vida.