3. Unidade de membrana e sua permeabilidade seletiva

O microscópio de luz não pode revelar a presença da MP diretamente, uma vez que sua espessura está abaixo do poder de resolução desse instrumento. Entretanto, muito antes do advento do microscópio eletrônico e das modernas técnicas de bioquímica, já se conheciam muitas informações indiretas sobre a composição e propriedades fisiológicas da MP, com base em experimentos fisiológicos realizados por alguns estudiosos pioneiros no final do século XIX. Com estas primeiras observações históricas, desde logo ficou patente uma das características mais marcantes da MP que é a seletividade: algumas substâncias passam facilmente pela membrana plasmática enquanto que outras não passam, ou só o fazem com um gasto energético da própria célula.

A seletividade, assim como outras características funcionais inerentes à membrana plasmática, implica ser esta estrutura uma entidade altamente complexa e organizada. Quando as primeiras imagens de microscopia eletrônica com qualidade tornaram-se disponíveis na década de 50, as observações da membrana plasmática e de outras membranas biológicas internas mostraram uma organização morfológica paradoxalmente simples e monótonas, na forma de uma estrutura trilamelar, com duas regiões mais densas e uma região interna menos densa, com uma espessura total em torno de 7,5 nm. Esta estrutura trilamelar foi denominada de unidade de membrana (Fig. 2).

Entretanto, logo ficou patente que a estrutura trilamelar da membrana plasmática era, na realidade, uma imagem muito simplificada da membrana, cuja complexidade o microscópio eletrônico não era capaz de resolver, uma vez que ela existe, de fato, mas a nível molecular. Embora a estruturação básica das membranas biológicas seja similar, existem diferenças marcantes com relação à composição e organização de seus constituintes, incluindo as membranas plasmáticas de tipos celulares diferentes.

Micrografia eletrônica evidenciando a unidade de membrana
Figura 2: Micrografia eletrônica evidenciando a unidade de membrana.
Fonte: FAWCETT, D.W. The cell. 2nd Ed. W. B. Saunders Company, Philadelphia. 1981.