Livro Estudos Eficientes

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Curso: Física Básica I
Livro: Livro Estudos Eficientes
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Data: quarta-feira, 3 jul. 2024, 12:33

Descrição

Dicas de leitura intensiva e de como recuperar informações obtidas nestas leituras.

1. Introdução

Como realizar estudos eficientes? Devemos tomar conhecimento dos mecanismos de aprendizagem e aproveitá-los em nossos estudos. Na impossibilidade (aqui) de apresentarmos esses mecanismos em detalhes, apresentamos algumas dicas de leituras intensivas (ou estudos) e dicas de como lembrar (e relembrar) os conhecimentos adquiridos nestas leituras/estudos. Estas dicas devem ser usadas diariamente. Elas devem tornarem-se habituais.

Outro ponto importante é o contrato didático: ele estabelece uma relação de obrigação entre estudantes e professores (ou instrutores). É obrigação do estudante se dedicar, se motivar, se esforçar em seus estudos. É obrigação do professor fornecer os meios para que estes estudos ocorram. No entanto, não pode haver nem opressores e nem oprimidos. É obrigação do estudante realizar as tarefas (leituras, exercícios, trabalhos, etc.) designadas. É obrigação do professor monitorar/assistir o estudante durante a realização de suas tarefas. Não é obrigação do professar realizar tais tarefas sem que o estudante as tenham tentado.

Créditos: Susan Gilroy, Harvard College, 08.05.11, Bureau of Study Counsel (bsc.harvard.edu), Harvard University, USA.

2. Lendo

Leitura crítica, comprometimento e interação ativa com os textos, é essencial para o sucesso acadêmico na Universidade de São Paulo, bem com para o seu crescimento intelectual. Uma pesquisa mostrou que os estudantes que leem intencionalmente retêm mais informações e por mais tempo. Suas leituras na universidade provavelmente serão mais substanciais e mais sofisticados do que aquelas que você está acostumado no ensino médio. A quantidade de leitura certamente será maior. Estudantes universitários raramente têm o luxo de sucessivas leituras, dado o ritmo de vida dentro e fora da sala de aula (virtuais neste momento).

Enquanto as estratégias descritas abaixo (por razões de clareza) estão listadas sequencialmente, você usualmente fará uso da maioria delas simultaneamente. Elas podem parecer estranhas no início e você terá de implementá-las conscientemente nas primeiras vezes, especialmente se você não está acostumado a fazer nada mais do que mover seus olhos pelas páginas dos livros. Mas elas rapidamente se tornarão hábitos, e você notará a diferença no que você "vê" numa leitura e na confiança com que você aborda seus textos.

2.1. Pré-visualizando

Pré-visualização: dê uma olhadinha no texto antes de começar a ler. Você provavelmente já realizou uma pré-visualização antes, quando você procurou determinar quão longa uma determinada leitura obrigatória é (e quanto tempo e energia, como resultado, ela vai exigir de você). Mas você pode aprender muito mais sobre a organização e a finalidade de um texto tomando notas de outras características mais importantes que o tamanho. Pré-visualização permite que você desenvolva um conjunto de expectativas sobre o escopo e o objetivo do texto. Estas impressões preliminares oferecem uma forma de concentrar na sua leitura:

  • O que dizem a você a presença de cabeçários, resumo e outros itens prefaciais?

  • Você já conhece o autor? Se o conhece, como sua reputação ou credenciais influenciam sua percepção sobre o que você está prestes a ler? Se o autor é desconhecido, um editor introduz ele (ou ela), fornecendo breves informações biográficas, uma avaliação do trabalho do autor, preocupações e importância?

  • Como a disposição ou layout de um texto te prepara para a leitura? O material está dividido em partes, subtópicos, seções ou similares? Há longos blocos de texto ou parágrafos menores ou "pedaços" e o que isto sugere? Como podem as partes de um texto guiá-lo para entender a linha de investigação ou a envergadura do argumento que está sendo feito?

  • O texto parece ser organizado de acordo com certas convenções do discurso? Artigos de jornal, por exemplo, têm características que você vai reconhecer; livros e textos acadêmicos são organizados de forma bastante diferente. Textos exigem coisas diferentes de você enquanto você lê, assim, sempre que você puder, tome nota do tipo de informação que está sendo apresentada a você.

2.2. Comentando

O ato de comentar o que leu coloca você ativamente e imediatamente em um "diálogo" com o autor, bem com as questões e ideias que você encontra em um texto escrito. É uma maneira de ter uma conversa em curso consigo mesmo enquanto você avança pelo texto e também para gravar o que foi esse encontro para você. Algumas dicas:

  • Jogue fora seu marcador de textos: realce pode parecer uma estratégia de leitura ativa, mas ele realmente pode distanciar você da atividade de aprendizagem e diluir a sua compreensão. Essas linhas amarelas e brilhantes que você coloca em uma página impressa, um dia podem parecer estranhamente enigmáticas, a menos que você tenha um método (baseado em cores) para lembrar por que elas eram importantes para você. Caneta ou lápis permitirá um aproveitamento melhor do texto que terá de enfrentar.
  • Marque as margens do texto com palavras e frases: ideias repentinas, notas sobre coisas que parecem importantes para você, lembretes de como questões em um texto podem ser conectadas com discussões em sala de aula ou com temas de cursos. Esse tipo de interação mantém você consciente das razões pelas quais você está lendo, bem como dos propósitos que seu instrutor tem em mente. Mais adiante no curso, quando você estiver se preparando para uma prova ou um projeto, suas notas marginais serão importantes catalisadores de memória.
  • Desenvolver seu próprio sistema de símbolos: marque uma ideia central com um asterisco (*), por exemplo, ou use um ponto de exclamação (!) para o surpreendente, o absurdo, o bizarro. Seu conjunto personalizado de hieróglifos permitirá que você capture as ideias importantes – e muitas vezes fugazes – que encontra enquanto está lendo. Como notas em suas margens, seus símbolos serão indispensáveis para você retornar a um texto em busca daquela passagem perfeita para usar em um relatório ou se preparar para um exame importante.
  • Obter o hábito de ouvir a si mesmo fazendo perguntas: "O que isso significa?", "Por que o autor está obtendo essa conclusão?", "Por que eu tenho de ler este texto?", etc. Anote as perguntas nas margens, no início ou no final da leitura, em um notebook, ou em outro lugar. São lembretes do trabalho inacabado que você ainda tem um determinado texto: algo para perguntar em sala de aula, ou para terminar você mesmo, uma vez que você tenha tido uma oportunidade de digerir um pouco mais o material ou ter feito outras leituras.

2.3. Analisando

A melhor maneira de determinar que você realmente compreendeu algo é ser capaz de ensiná-lo com suas próprias palavras. Todo conhecimento pode ser verbalizado. Descrever o argumento de um texto é uma modalidade de comentar, e pode ser feito muito informalmente nas margens do texto, a menos que o texto seja de uma biblioteca. A descrição permite que você veja a estrutura de um argumento: a tese, o primeiro argumento e prova (e assim por diante), até a conclusão. Em leituras pesadas ou difíceis, essa estrutura pode não ser óbvia até você começar a procurar por ela. Resumir realiza algo semelhante, mas em forma de sentenças e parágrafos, com conexões explícitas entre ideias. Analisar adiciona um componente avaliativo ao processo de resumir — exige que você não apenas restabeleça as ideias principais, mas que também teste a lógica, a credibilidade e o impacto emocional de um argumento. Na análise de um texto, você reflete e decide quão eficaz (ou ineficaz) um argumento foi feito. Perguntas a fazer:

  • O que é que o autor está afirmando?
  • O que está me pedindo para acreditar ou aceitar? Fatos? Opiniões? Ambos?
  • Que razões ou provas o autor fornece para me convencer? Onde está a evidência mais forte ou mais eficaz que o autor oferece para me convencer?

2.4. Padronizando

A forma que a linguagem é escolhida, usada, posicionada em um texto pode ser uma importante indicação do que um autor considera crucial e do que espera colher de seu argumento. Também pode ser um alerta a posições ideológicas, agendas ocultas ou preconceitos. Preste atenção em:

  • Imagens recorrentes.
  • Palavras repetidas, frases, tipos de exemplos ou ilustrações.
  • Formas consistentes de caracterizar as pessoas, eventos ou problemas.

2.5. Contextualizando

Contextualizar: depois de terminar de ler ativamente e comentar, faça um balanço e coloque sua leitura em perspectiva. Quando você contextualiza, você essencialmente "revê" um texto que você encontrou, enquadrado por suas circunstâncias históricas, culturais, materiais ou intelectuais. Quando ele foi escrito ou onde ele foi publicado? Esses fatores mudam ou influenciam como você vê o texto? Veja a leitura também através da lente de sua própria experiência. Sua compreensão das palavras numa página e seus significados são sempre moldadas pelo que você conhece e valoriza em um determinado tempo e lugar.


2.6. Comparando

Compare: contraste leituras para determinar suas relações (ocultas ou explícitas):

  • Em que momento do curso esta leitura aparece? Por que esse momento?
  • Como ela contribui para os principais conceitos e temas do curso?
  • Como ela se compara (ou contrasta) às ideias apresentadas pelos textos que vieram antes?
  • Continua uma tendência, muda de direção ou expande o foco de leituras anteriores?
  • Como seu pensamento foi alterado por esta leitura?
  • Como ela afetou sua resposta para as questões e temas do curso?

3. Lembrando

Você já teve a sensação de chegar ao final de um texto e notar que não lembra mais o que leu? As dicas neste texto ajudará você a criar “a rede de associações”, este entrelaçamento de aprendizados novos sobre associações que formam a nossa memória.

Em termos da mente, quanto mais fatos distintos associamos a um dado fato, melhor é a retenção dele em nossa memória. Cada um destes fatos associados torna-se um gancho que segura um dado fato, um mecanismo para trazê-lo a tona quando ele está imerso bem fundo em nossa memória. Juntos, estes fatos auxiliares formam uma rede de acessórios que entrelaça todo o tecido de nosso pensamento. O segredo de uma boa memória é assim o segredo de formar muitas e diversas associações a cada fato que desejamos guardar. No entanto, este processo de associações de outros fatos com um dado fato, não é simplesmente o ato de pensar sobre ele tanto quanto possível? William James, Principles of Psychology, 1890, Vol 1, Cap. XVI, p. 662.

3.1. Estratégias

Experimente estratégias. Há várias estratégias que você pode incorporar em suas rotinas de estudos para ajudar a melhorar suas habilidades de lembrar o que você lê e aprende:
  1. Pratique o ato de comentar o que você lê. Uma codificação eficaz é essencial para uma fácil recuperação de informações de nossa memória e requer uma interação ativa com o texto ao ponto de torná-lo seu próprio texto. Escreva e/ou recite o que leu usando suas próprias palavras (cópias não ajudam). Você será cobrado a fazer isto em provas, portanto aprender como expressar conceitos importantes com suas próprias palavras desde o início trará vários benefícios. Além disto, expressando os pontos principais com suas próprias palavras facilitará muito relembrá-los mais tarde. Certifique-se de usar suas próprias palavras ao invés de repetir as palavras do autor; isto evita o crime de plágio e melhora sua compreensão e memórização.
  2. Faça fazer sentido o que você lê. Um texto que faça sentido para você será relembrado com mais facilidade do que um texto que você não entende. Não existe o “entender mais-ou-menos”. Restabeleça ideias e conceitos novos usando suas próprias palavras. Coloque as ideias novas no cenário completo de um assunto e amarre fatos novos com aqueles que já sabe. Cada frase num texto científico tem um significado preciso e único.
  3. Revise imediatamente e ativamente. Muitos esquecimentos ocorrem imediatamente após o aprendizado inicial, por isso é importante registrar as informações novas ativamente. Por exemplo, você pode repetir uma informação que acabou de ouvir, fazer uma imagem mental sobre ela, ou usar outros processos mnemônicos que conheça. É importante que você compreenda que o processo de fortalecimento da memória não se faz através de um “olhar” passivo sobre um texto (nem marcando e nem sublinhando apenas). Revisão ativa requer uma reescrita ativa usando suas próprias palavras e/ou uma discussão ativa e/ou uma recitação ativa sobre o que você acabou de ler ou ouvir.
  4. Estude várias vezes o mesmo texto. Quanto mais alto o nível que um conhecimento/habilidade é aprendido, mais difícil de esquecê-lo. Repita o que você quiser relembrar depois do momento inicial; revisite-o minutos/horas/dias mais tarde, até sentir-se seguro que pode recuperá-lo no momento que desejar. Use uma folha em branco e reconstrua os conhecimento adquiridos, sem consultar suas fontes. Caso não consiga nas primeira tentativas, consulte as fontes e tente novamente. Einstein fazia isso cerca de 100 vezes!
  5. Desenvolva um sistema de memorização. Use palavras chaves e símbolos para lembrar você dos detalhes importantes. Quando estiver lendo um livro texto (ou notas de aulas), encontre uma palavra ou uma frase chave que simbolize para você a ideia principal de um parágrafo ou seção e escreva ela na margem. Use as margens (ou anotações em textos digitais).
  6. Use processos mnemônicos. Organize por categorias (ou qualquer outro critério) as informações que deseja relembrar. Use processos mnemônicos com cautela, pois eles possuem duas desvantagens: (1) eles podem induzir você a memorizar informações superficiais, ao invés de obter uma compreensão mais profunda do significado intrínseco sobre o que estudou; (2) um pequenino erro ao relembrar um processo mnemônico pode colocar tudo a perder.
  7. Use diversas modalidades sensoriais. Use uma combinação de imagens visuais, repetições verbais e escritas para realçar a informação que deseja relembrar. Discussões com outros colegas também ajuda muito. Quando compreendemos algo, somos capazes de verbalizá-lo. Aprendizagem se faz com todos os sentidos disponíveis: visão, audição, manipulação, intuição, imaginação (tome cuidado com essa), etc.

3.2. Limites

Observe seus limites. Estratégias específicas podem levá-lo até certo ponto. Você precisa observar e respeitar a sua saúde mental, bem como a receptividade de nossa mente. Sua habilidade de relembrar – de gravar, reter e recuperar informação – depende de ter uma saúde boa; um cérebro saudável e animado; uma mente aberta e solícita.

  1. Dormir é uma das melhores ajuda à memória. Seu cérebro precisa de um descanso adequado para consolidar as informações adquiridas recentemente. Este descanso ocorre durante o sono quando dormimos. Além disso, dormir previne interferências com informações adquiridas previamente.
  2. Evite maratona de estudos. A sua capacidade de reter informações aumentará significativamente se você dividir seus estudos. Estude frequentemente, em períodos moderados. Não tente aprender tudo de uma só vez. Não estude somente minutos ou poucas horas antes das provas.
  3. Faça exercícios físicos. Exercícios ajudam a melhorar a circulação sanguínea no cérebro. Isto permite que nutrientes vitais (além do fornecimento contínuo de oxigênio) que melhoram o funcionamento do cérebro. Respeite as regras de isolamento social durante esta pandemia.
  4. Tenha uma atitude ativa. Sua atitude num processo de aprendizagem tem um impacto significante tanto no início quanto no momento de recuperá-la. Sentimentos intensos sobre o que está estudando – positivo (inspiração) ou negativo (revolta) – podem levar você a não dar a devida importância a alguns conceitos e distorcer ou exagerar a importância de outros. Por outro lado, a falta de entusiasmo sobre o que está estudando pode levá-lo ao aborrecimento. Preste atenção a seus sentimentos e reações como respostas aos estímulos produzidos pelos seus estudos. Procure se engajar com o texto que está estudando de mente aberta e curiosa. Se pergunte “Por que estou reagindo tão estranhamente ao que estou lendo?” ou “Por que estou achando tão difícil me conectar com o que estou lendo?”. Simplesmente prestando atenção às suas atitudes e sendo verdadeiramente curioso sobre suas reações, você pode mudar de desinteressado e desengajado para interessado e engajado. Tenha uma atitude ativa, participe!