IV. Português do Brasil

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Cours: FLC0114 - Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa I (Maria Clara, 2019, 19:30)
Livre: IV. Português do Brasil
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Date: lundi 20 mai 2024, 02:26

1. A variação que esquecemos de ver


Português do Brasil:
A variação que vemos e a variação que esquecemos de ver


"Já se disse várias vezes que o português do Brasil é uma língua uniforme. Sua uniformidade foi afirmada e elogiada por pessoas de diferentes formações - escritores, historiadores e linguistas. Mas a uniformidade do português brasileiro é em grande parte um mito, para o qual contribuíram 

1) uma certa forma de nacionalismo;
2) uma visão limitada do fenômeno linguístico, que só consegue levar em conta a língua culta;
3) e uma certa insensibilidade para a variação, contrapartida do fato de que os falantes se adaptam naturalmente a diferentes contextos de fala.

Nas próximas páginas, procuraremos mostrar que o portuguguês brasileiro não é uma língua uniforme; e tentaremos convencero leituro de que essa ideia, além de falsa, é pouco interessante, porque nos torna incapazes de lidar com situações que afetam correntemente o uso da língua e seu ensino. Partiremos do princípio de que a variação linguística é um fenômeno normal, que, por manifestar-se de várias formas, leva os estudiosos a falar em variação diacrônica, variação diatópica, variação diastrática e variação diaméstica."

Ilari e Basso (2009:151)

2. Aspectos gramaticais em variação no Português do Brasil

Sub-tópicos:


2.1 A variação na marcação de número no sintagma nominal

2.2 A variação no sintagma verbal e o paradigma pronominal do PB

2.3 A pronúncia do /r/ travador



2.1 A variação na marcação de número no sintagma nominal


Bibliografia complementar:

Scherre, Maria Marta Pereira. Aspectos da concordância de número no português doBrasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa (RILP) - Norma eVariação do Português. Associação das Universidades de LínguaPortuguesa. 12:37-49. dez. de 1994.

Scherre, Maria Marta Pereira; Naro, Anthony Julius. Sobre a concordância de número no português falado do Brasil. In Ruffino, Giovanni (org.) Dialettologia, geolinguistica, sociolinguistica. (Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza) Centro di Studi Filologici e Linguistici Siciliani, Universitá di Palermo. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 5:509- 523, 1998.

Brandão, Silvia Figueiredo. Concordância nominal em duas variedades do português: convergências e divergências. Revista Veredas, v. 15, n. 1, 2011


Caso para exame


Tema 1: Morfossintaxe do sintagma nominal: a marcação do plural

Corpus:

ABC da greve (Leon Hirzman, 1980)

 (diversos trechos)

Trabalho: 113-09

4

5

6

7


1

2


2.2 A variação no sintagma verbal e o paradigma pronominal do PB


Bibliografia complementar


BRANDÃO, Silvia Figueiredo; VIEIRA, Silvia Rodrigues. Concordância nominal e verbal: contribuições para o debate sobre o estatuto da variação em três variedades urbanas do português. ALFA: Revista de Linguística, v. 56, n. 3, 2012.

DUARTE, Maria Eugência Lamoglia. Clítico acusativo, pronome lexical e categoria vazia no português do Brasil. In: TARALO, Fernando (Org.). Fotografias sociolinguísticas. Campinas: Pontes/Ed. da UNICAMP, 1989.

FARACO, Carlos Alberto. O tratamento "você" em português: uma abordagem histórica. LaborHistórico, [S.l.], v. 3, n. 2, p. 114-132, abr. 2018. ISSN 2359-6910. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/lh/article/view/17150. doi:https://doi.org/10.24206/lh.v3i2.17150.

FARACO, Carlos Alberto. O tratamento Você em português: uma abordagem histórica. In.: Fragmenta. Curitiba: No 13, Editora da UFPR, p. 51-82. 1996.

GALVES, Charlotte. A Sintaxe do Português Brasileiro. Ensaios de Lingüística, 1987:13. 31-50.

Paixão de Sousa MC. A morfologia de flexão no português do Brasil: ensaio sobre um discurso de perda; 2010.

LOPES, Célia Regina dos Santos. A inserção de ´a gente´ no quadro pronominal do português . Madri: Ibeoramericana Vervuert Editorial, 2002.

LOPES, Célia Regina dos Santos. Nós e a gente no português falado culto do Brasil. DELTA [online]. 1998, vol.14, n.2, pp.405-422. ISSN 0102-4450.  DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44501998000200006.

LOPES, Celia Regina dos Santos. Pronomes pessoais. In: Silvia Figueiredo Brandão e Silvia Rodrigues Vieira. (Org.). Ensino de gramática: descrição e uso. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2007.

LOPES, Celia Regina dos Santos. Retratos da variação entre "você" e "tu" no português do Brasil: sincronia e iacronia. In: Claudia Roncarati; Jussara Abraçado. (Org.). Português Brasileiro II - contato lingüístico, heterogeneidade e história. 1 ed. Niterói: EDUFF, 2008, v. 2, p. 55-71. 

LOPES, Celia Regina dos Santos; CAVALCANTE, Sílvia Regina de Oliveira. A cronologia do voceamento no português brasileiro: expansão de você-sujeito e retenção do clítico-te. Revista Linguistica, v.25, p.30-65, jun. 2011. Disponível em: http://www.linguisticalfal.org/25_linguistica_030_065.pdf

LOPES, Célia Regina dos Santos; RUMEU, Márcia Cristina de Brito; CARNEIRO, Zenaide. A configuração diatópico-diacrônica do sistema de tratamento do português brasileiro. Revista do GELNE, v. 15, n. 1/2, p. 191-216, 2016.

NAMIUTI, Cristiane; VIEIRA, Adilma Sampaio de Oliveira. Nós concordamos em pessoa e número, porém, nós discorda bastante. Um estudo dos pronomes de primeira pessoa plural em PB com base em um corpus de fala popular. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 14, n. 4, p. 2587-2605, dez. 2017. ISSN 1984-8412. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/1984-8412.2017v14n4p2587. doi:https://doi.org/10.5007/1984-8412.2017v14n4p2587.

NUNES, Jairo. Direção de cliticização, objeto nulo e pronome tônico na posição de objeto em português brasileiro. In: I. Roberts & M. Kato (orgs.) Português brasileiro: Uma viagem diacrônica. Campinas: Editora da Unicamp; 1993.. 207-222.

PEREIRA DA SILVA MENON, Odete. O Sistema pronominal do português do Brasil. Revista Letras, v. 44, dez. 1995. ISSN 2236-0999. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/19069. doi:http://dx.doi.org/10.5380/rel.v44i0.19069.

RUMEU, Márcia Cristina de Brito. Tu’ ou ‘você’, ‘te’ ou ‘lhe’? A correlação entre as funções de sujeito e complemento verbal de 2ª Pessoa. Linguística, Montevidéu, v. 31-2, 2015, p. 83-109. Disponível em: http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2079-312X2015000200007&lng=es&nrm=iso


Casos para exame


Tema 2: Paradigma verbal: a marcação do plural

Corpus:

Conterrâneos velhos de guerra (Vladimir Carvalho, 1991)

  (de 1:42:15 até 1:44:20)

Trabalho: 111-03

8

Tema 4: Sistema pronominal e paradigma verbal: o uso de 'nós' e 'a gente'

Corpus:

"Peões" (Eduardo Coutinho, 2008) 

 (de 22:20 até 29:00)

Trabalho: Grupo 111-21

9
10
Tema 3: Sistema pronominal e paradigma verbal: o uso de 'tu' e 'você'

Corpus:

"Santo Forte" (Eduardo Coutinho, 1999) 

  (de 43:39 até 43:05, e de 45:25 até 45:37)

A mô fio du jeitu que suncê tá,
só u homi é qui podi ti ajudá,
suncê compra um garrafa de marafa,
...marafa qui eu vá dizê u nomi,
meia noite suncê na incruziada,
destampa a garrafa e chama u homi,
u galu vai cantá suncê iscuta,
leia tudu nu chãu qui tá na hora
i si guarda noturnu vim chegandu,
suncê óia pra ele qui ile vai andanu,
ah mô fio, do jeito que suncê tá,
só u homi é qui podi ti ajudá
[...]
Tem sidu mau foi um mau maridu,
inda puxa sacu di patrãu,
feiz candonga di companhêru seu,
eli boto feitiçu im suncê,
agora só na meia noiti
é qui podi teu caso resolvê


Tema 3: Sistema pronominal e paradigma verbal: o uso de 'tu' e 'você'

Corpus:

Prêmio Multishow 2017 (Eduardo Coutinho, 1999) 

 (de 12:00 até 12:50)

Trabalho: Grupo 111-07


11

Tema 3: Sistema pronominal e paradigma verbal: o uso de 'tu' e 'você'

Corpus:

Ouro Verde - A roda de samba do Marapé

(de 2:00 até 5:00)

Trabalho: Grupo 113-19

12


Tema 5: Sistema pronominal:  expressão do objeto direto na terceira pessoa ('ele/ela', 'o/a'; 'eles/elas', 'os/as')

Corpus:

Um dia na roça do Rodolfo

(54:10)

Trabalho: Grupo 113-23


13

14


2.3 A pronúncia do /r/ travador


Bibliografia complementar


BISOL, Leda; MAGALHÃES, José Sueli de. A redução vocálica no português brasileiro: avaliação via restrições. Revista da ABRALIN, v. 3, n. 1/2, 2004. Disponível em http://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/933

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne; MORAES, João. Variação e diferenciação dialetal: a pronúncia do /r/ no português do Brasil. In: KOCH, Ingedore (org.). Gramática do português falado. Vol VI. Campinas: UNICAMP, 1996. p. 465-493

CALLOU, Dinah; MORAES, João  and  LEITE, Yonne. Apagamento do R Final no Dialeto Carioca: um Estudo em Tempo Aparente e em Tempo Real. DELTA [online]. 1998, vol.14, n.spe. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501998000300006&lng=en&nrm=iso. ISSN 0102-4450.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44501998000300006.

CALLOU, Dinah; MORAES, João; LEITE, Yonne. Apagamento do R Final no Dialeto Carioca: um Estudo em Tempo Aparente e em Tempo Real. DELTA, São Paulo , v14 1998.

GALLI, M.C. Um estudo de caso sobre o apagamento dos róticos em infinitivos. Travessias, v. 9, n. 1.

LOCKETT, Landon. Uso do infinitivo num corpus de português coloquial brasileiro. Alfa, 15, 1969. p. 119-192. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/3336/3058

MENDES, R. B.; OUSHIRO, Lívia. A pronúncia de (-R) em coda silábica no português paulistano. Revista do GEL. Vol. 8, n.2. 2013.

MONARETTO, Valéria Neto de Oliveira. O status fonológico da vibrante. Letras de Hoje, Porto Alegue, v. 29, n. 4, dez 1994. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/15778

OLIVEIRA, Marco Antônio de. Reanalisando o processo de cancelamento do ( r ) em final de sílaba. Revista de Estudos da Linguagem. Belo Horizonte, v.6, n. 6, 1997. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2175

OUSHIRO, Lívia; BELINE, Ronald. O apagamento de (-r) em coda nos limites da variação. Veredas, v. 18, n. 2; 2014.

RANGEL, Egon. Sobre o infinitivo simples no português culto da cidade de São Paulo. Cadernos de estudos linguísticos, n° 6, 1984, p. 191-210. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8636665


Exames de caso


Corpus:

Pro dia nascer feliz 

  (9:57; 48:48; 53:33)

Trabalho: Grupo 111-11











"Os dados aqui apresentados mostram a complexidade do estudo da mudança lingüística. No caso em pauta, essa complexidade fica bastante evidente. Em primeiro lugar, teve-se que diferençar falantes do sexo masculino de falantes do sexo feminino — uma comunidade cindida, portanto — e, em segundo, distinguir entre verbos e não-verbos. O interessante aqui é que o apagamento do R, como se disse, incide sobre material com conteúdo morfológico. Essa distinção acarreta um problema para o modelo da fonologia lexical, pois se tem uma regra fonética variável para a qual é imprescindível informação morfológica. No modelo da fonologia lexical, as regras variáveis se aplicariam no nível pós-lexical, em que as informações morfológicas já não estariam presentes.
Por fim, vale salientar que o apagamento do R final tem sido considerado um caso de mudança de baixo para cima que, ao que tudo indica, já atingiu seu limite, e é hoje uma variação estável, sem marca de classe social."


(Callou & Moraes, 1998)



Cf. Oushiro & Mendes, 2014.

2.1. A variação na marcação de número no sintagma nominal

Bibliografia complementar:

Scherre, Maria Marta Pereira. Aspectos da concordância de número no português doBrasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa (RILP) - Norma eVariação do Português. Associação das Universidades de LínguaPortuguesa. 12:37-49. dez. de 1994.

Scherre, Maria Marta Pereira; Naro, Anthony Julius. Sobre a concordância de número no português falado do Brasil. In Ruffino, Giovanni (org.) Dialettologia, geolinguistica, sociolinguistica. (Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia Romanza) Centro di Studi Filologici e Linguistici Siciliani, Universitá di Palermo. Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 5:509- 523, 1998.

Brandão, Silvia Figueiredo. Concordância nominal em duas variedades do português: convergências e divergências. Revista Veredas, v. 15, n. 1, 2011


Caso para exame


Tema 1: Morfossintaxe do sintagma nominal: a marcação do plural

Corpus:

ABC da greve (Leon Hirzman, 1980)

 (diversos trechos)

Trabalho: 113-09

4

5

6

7


1

2



2.2. A variação no sintagma verbal e o paradigma pronominal do PB

Bibliografia complementar


BRANDÃO, Silvia Figueiredo; VIEIRA, Silvia Rodrigues. Concordância nominal e verbal: contribuições para o debate sobre o estatuto da variação em três variedades urbanas do português. ALFA: Revista de Linguística, v. 56, n. 3, 2012.

DUARTE, Maria Eugência Lamoglia. Clítico acusativo, pronome lexical e categoria vazia no português do Brasil. In: TARALO, Fernando (Org.). Fotografias sociolinguísticas. Campinas: Pontes/Ed. da UNICAMP, 1989.

FARACO, Carlos Alberto. O tratamento "você" em português: uma abordagem histórica. LaborHistórico, [S.l.], v. 3, n. 2, p. 114-132, abr. 2018. ISSN 2359-6910. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/lh/article/view/17150. doi:https://doi.org/10.24206/lh.v3i2.17150.

FARACO, Carlos Alberto. O tratamento Você em português: uma abordagem histórica. In.: Fragmenta. Curitiba: No 13, Editora da UFPR, p. 51-82. 1996.

GALVES, Charlotte. A Sintaxe do Português Brasileiro. Ensaios de Lingüística, 1987:13. 31-50.

Paixão de Sousa MC. A morfologia de flexão no português do Brasil: ensaio sobre um discurso de perda; 2010.

LOPES, Célia Regina dos Santos. A inserção de ´a gente´ no quadro pronominal do português . Madri: Ibeoramericana Vervuert Editorial, 2002.

LOPES, Célia Regina dos Santos. Nós e a gente no português falado culto do Brasil. DELTA [online]. 1998, vol.14, n.2, pp.405-422. ISSN 0102-4450.  DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44501998000200006.

LOPES, Celia Regina dos Santos. Pronomes pessoais. In: Silvia Figueiredo Brandão e Silvia Rodrigues Vieira. (Org.). Ensino de gramática: descrição e uso. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2007.

LOPES, Celia Regina dos Santos. Retratos da variação entre "você" e "tu" no português do Brasil: sincronia e iacronia. In: Claudia Roncarati; Jussara Abraçado. (Org.). Português Brasileiro II - contato lingüístico, heterogeneidade e história. 1 ed. Niterói: EDUFF, 2008, v. 2, p. 55-71. 

LOPES, Celia Regina dos Santos; CAVALCANTE, Sílvia Regina de Oliveira. A cronologia do voceamento no português brasileiro: expansão de você-sujeito e retenção do clítico-te. Revista Linguistica, v.25, p.30-65, jun. 2011. Disponível em: http://www.linguisticalfal.org/25_linguistica_030_065.pdf

LOPES, Célia Regina dos Santos; RUMEU, Márcia Cristina de Brito; CARNEIRO, Zenaide. A configuração diatópico-diacrônica do sistema de tratamento do português brasileiro. Revista do GELNE, v. 15, n. 1/2, p. 191-216, 2016.

NAMIUTI, Cristiane; VIEIRA, Adilma Sampaio de Oliveira. Nós concordamos em pessoa e número, porém, nós discorda bastante. Um estudo dos pronomes de primeira pessoa plural em PB com base em um corpus de fala popular. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 14, n. 4, p. 2587-2605, dez. 2017. ISSN 1984-8412. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/1984-8412.2017v14n4p2587. doi:https://doi.org/10.5007/1984-8412.2017v14n4p2587.

NUNES, Jairo. Direção de cliticização, objeto nulo e pronome tônico na posição de objeto em português brasileiro. In: I. Roberts & M. Kato (orgs.) Português brasileiro: Uma viagem diacrônica. Campinas: Editora da Unicamp; 1993.. 207-222.

PEREIRA DA SILVA MENON, Odete. O Sistema pronominal do português do Brasil. Revista Letras, v. 44, dez. 1995. ISSN 2236-0999. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/19069. doi:http://dx.doi.org/10.5380/rel.v44i0.19069.

RUMEU, Márcia Cristina de Brito. Tu’ ou ‘você’, ‘te’ ou ‘lhe’? A correlação entre as funções de sujeito e complemento verbal de 2ª Pessoa. Linguística, Montevidéu, v. 31-2, 2015, p. 83-109. Disponível em: http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2079-312X2015000200007&lng=es&nrm=iso


Casos para exame


Tema 2: Paradigma verbal: a marcação do plural

Corpus:

Conterrâneos velhos de guerra (Vladimir Carvalho, 1991)

  (de 1:42:15 até 1:44:20)

Trabalho: 111-03

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Tema 4: Sistema pronominal e paradigma verbal: o uso de 'nós' e 'a gente'

Corpus:

"Peões" (Eduardo Coutinho, 2008) 

 (de 22:20 até 29:00)

Trabalho: Grupo 111-21

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Tema 3: Sistema pronominal e paradigma verbal: o uso de 'tu' e 'você'

Corpus:

"Santo Forte" (Eduardo Coutinho, 1999) 

  (de 43:39 até 43:05, e de 45:25 até 45:37)

A mô fio du jeitu que suncê tá, 
só u homi é qui podi ti ajudá, 
suncê compra um garrafa de marafa, 
...marafa qui eu vá dizê u nomi, 
meia noite suncê na incruziada, 
destampa a garrafa e chama u homi, 
u galu vai cantá suncê iscuta, 
leia tudu nu chãu qui tá na hora 
i si guarda noturnu vim chegandu,
suncê óia pra ele qui ile vai andanu, 
ah mô fio, do jeito que suncê tá,
só u homi é qui podi ti ajudá
[...]
Tem sidu mau foi um mau maridu, 
inda puxa sacu di patrãu, 
feiz candonga di companhêru seu, 
eli boto feitiçu im suncê,
agora só na meia noiti 
é qui podi teu caso resolvê


Tema 3: Sistema pronominal e paradigma verbal: o uso de 'tu' e 'você'

Corpus:

Prêmio Multishow 2017 (Eduardo Coutinho, 1999) 

 (de 12:00 até 12:50)

Trabalho: Grupo 111-07


11

Tema 3: Sistema pronominal e paradigma verbal: o uso de 'tu' e 'você'

Corpus:

Ouro Verde - A roda de samba do Marapé

 (de 2:00 até 5:00)

Trabalho: Grupo 113-19

12


Tema 5: Sistema pronominal:  expressão do objeto direto na terceira pessoa ('ele/ela', 'o/a'; 'eles/elas', 'os/as')

Corpus:

Um dia na roça do Rodolfo

 (54:10)

Trabalho: Grupo 113-23


13

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2.3. A pronúncia do /r/ travador

Bibliografia complementar


BISOL, Leda; MAGALHÃES, José Sueli de. A redução vocálica no português brasileiro: avaliação via restrições. Revista da ABRALIN, v. 3, n. 1/2, 2004. Disponível em http://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/933

CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne; MORAES, João. Variação e diferenciação dialetal: a pronúncia do /r/ no português do Brasil. In: KOCH, Ingedore (org.). Gramática do português falado. Vol VI. Campinas: UNICAMP, 1996. p. 465-493

CALLOU, Dinah; MORAES, João  and  LEITE, Yonne. Apagamento do R Final no Dialeto Carioca: um Estudo em Tempo Aparente e em Tempo Real. DELTA [online]. 1998, vol.14, n.spe. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501998000300006&lng=en&nrm=iso. ISSN 0102-4450.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-44501998000300006.

CALLOU, Dinah; MORAES, João; LEITE, Yonne. Apagamento do R Final no Dialeto Carioca: um Estudo em Tempo Aparente e em Tempo Real. DELTA, São Paulo , v14 1998.

GALLI, M.C. Um estudo de caso sobre o apagamento dos róticos em infinitivos. Travessias, v. 9, n. 1.

LOCKETT, Landon. Uso do infinitivo num corpus de português coloquial brasileiro. Alfa, 15, 1969. p. 119-192. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/3336/3058

MENDES, R. B.; OUSHIRO, Lívia. A pronúncia de (-R) em coda silábica no português paulistano. Revista do GEL. Vol. 8, n.2. 2013.

MONARETTO, Valéria Neto de Oliveira. O status fonológico da vibrante. Letras de Hoje, Porto Alegue, v. 29, n. 4, dez 1994. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/15778

OLIVEIRA, Marco Antônio de. Reanalisando o processo de cancelamento do ( r ) em final de sílaba. Revista de Estudos da Linguagem. Belo Horizonte, v.6, n. 6, 1997. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2175

OUSHIRO, Lívia; BELINE, Ronald. O apagamento de (-r) em coda nos limites da variação. Veredas, v. 18, n. 2; 2014.

RANGEL, Egon. Sobre o infinitivo simples no português culto da cidade de São Paulo. Cadernos de estudos linguísticos, n° 6, 1984, p. 191-210. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8636665


Exames de caso


Corpus:

Pro dia nascer feliz 

  (9:57; 48:48; 53:33)

Trabalho: Grupo 111-11











"Os dados aqui apresentados mostram a complexidade do estudo da mudança lingüística. No caso em pauta, essa complexidade fica bastante evidente. Em primeiro lugar, teve-se que diferençar falantes do sexo masculino de falantes do sexo feminino — uma comunidade cindida, portanto — e, em segundo, distinguir entre verbos e não-verbos. O interessante aqui é que o apagamento do R, como se disse, incide sobre material com conteúdo morfológico. Essa distinção acarreta um problema para o modelo da fonologia lexical, pois se tem uma regra fonética variável para a qual é imprescindível informação morfológica. No modelo da fonologia lexical, as regras variáveis se aplicariam no nível pós-lexical, em que as informações morfológicas já não estariam presentes.
Por fim, vale salientar que o apagamento do R final tem sido considerado um caso de mudança de baixo para cima que, ao que tudo indica, já atingiu seu limite, e é hoje uma variação estável, sem marca de classe social."


(Callou & Moraes, 1998)



Cf. Oushiro & Mendes, 2014.



2.4. O 'Vocalismo' no Português do Brasil


Material Complementar


bocona

Lembrar!
https://edisciplinas.usp.br/mod/book/view.php?id=2537281


Bibliografia Complementar


BISOL, Leda; MAGALHÃES, José Sueli de. A redução vocálica no português brasileiro: avaliação via restrições. Revista da ABRALIN, v. 3, n. 1/2, 2004. Disponível em http://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/933

CALLOU, Dinah; MORAES, João de A.; LEITE, Yonne. O vocalismo do português do Brasil. Revista Letras de Hoje,  v. 31, n. 2, 1996. Disponível em http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/view/15590

DE ARAGÃO, Maria do Socorro Silva. Ditongação e monotongação nas capitais brasileiras. Atas do

XVII Congreso Internacional Asociación De Lingüística Y Filología De América Latina (ALFAL 2014). Disponível em: https://alib.ufba.br/sites/alib.ufba.br/files/r0395-1.pdf .

DE PAULA, Alessandra; BRANDÃO, Silvia Figueiredo. Vogais em contexto postônico não final em variedades do português: questões teóricas. Revista da ABRALIN, v. 14, n. 1, 2015. Disponível em: http://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/1232

LEIRIA, Lúcia Lovato. A ditongação variável em sílabas tônicas finais travadas por /s/. Organon,  v. 14, n. 28-29, 2000. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/organon/article/view/30201/18709 .

MATEUS, Maria Helena Mira. O comportamento das vogais nas variedades do português. Lingüística,  Montevideo ,  v. 30, n. 2, p. 19-43,  2014.  Disponível em http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2079-312X2014000200003&lng=es&nrm=iso. 

MATZENAUER, Carmen Lúcia. O mapeamento fonético-fonológico das vogais postônicas finais no português brasileiro. Domínios de Lingu@gem, v. 10, n. 2, p. 466-493, 27 jun. 2016. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/31586

SILVA, Myrian Barbosa da. Uma possível história das pretônicas brasileiras Revista Linguística / Revista do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Volume 9, número 2, dezembro de 2013. ISSN 1808-835X 1. Disponível em https://revistas.ufrj.br/index.php/rl/article/download/4491/3262

SILVA, Taís Cristófaro. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto; 1999. [p. 23-108].


2.4.1 As vogais átonas E e O finais


Exame de caso


Corpus:
Jango
Sílvio Tendler, 1984



25:36 - 28:18;  54:11 - 56:00

Trabalho: Grupo 113-24

21


22

23

Corpus
'Criança do dia'
TV Folha



Grupo: 113-24

24

5:55

26

25


O funcionamento das vogais átonas é, no dizer de Câmara Jr. (1977), "um dos problemas mais intrincados da fonêmica portuguesa no Brasil". Em sílaba átona final, a mais débil da palavra, o triângulo de sete vogais tônicas do sistema fonológico da língua fica reduzido às três vogais periféricas /a, i, u/ (Câmara Jr., 1970, 1977; Bisol, 1981, 2002, 2003). Essas vogais que se mantêm nas sílabas com maior grau de atonicidade no português brasileiro (PB) são as mais frequentes nos inventários fonológicos das línguas (Maddieson, 1984) e as primeiras a emergir no processo de aquisição da linguagem pelas crianças (Rangel, 2002). As formas fonéticas que tais vogais assumem no PB tendem a ser centralizadas ([I, U, E]), havendo variação, no sul do país, entre altas e médias (golp[I] ~ golp[e]; camp[U] ~ camp[o]).
Matzenauer, 2016.

2.4.2 Ditongar ou não ditongar, eis a questão


Corpus:
Palestra com o escritor Ferrez
Bravo!, 2018



1:00 - 8:00

Trabalho: Grupo 113-04

27

28

29

30

31

...mas afinal, o que é um ditongo?


ditongos
Ditongos do português. Fonte: Projeto Sonoridade em Artes, Saúde e Tecnologia. Fonética articulatória. Página web. UFMG; 2008. http://fonologia.org/fonetica_articulatoria.php

Exemplos de ditongos decrescentes:

/ay/ pai, abaixo
/ey/ rei, azeite
/ɛy/ anéis, cruéis
/oy/ boi, moita
/ɔi/ mói, herói
/ui/ fui, cuidado

/aw/ mau, aplauso
/ew/ eu, neutro
/ɛw/ céu, chapéu
/ow/ ou, pouco
/uw/ riu, fugiu
 
Assim...

Um ditongo é uma vogal que apresenta mudanças de qualidade continuamente dentro de um percurso na área vocálica.
(Silva, 1999)

Então, o que é a 'ditongação'?

Transformação de uma vogal em ditongo: um segmento vocálico desdobra-se em dois segmentos, isto é, produz-se um processo de diferenciação tímbrica (ou ditongação) no interior de uma  semivogal em posição pré ou pós vocálica.

(Xavier e Mateus, apud de Aragão, 2014)

E o que é a 'monotongação'?

Em direção contrária à ditongação, a monotongação é vista como uma redução do  ditongo à vogal simples ou pura, por um processo de assimilação completa.

de Aragão, 2014


E ainda... Para alguns fonólogos...

Assim, pode-se resumir os tipos de ditongos do seguinte modo:
Ditongo Pesado > Verdadeiro > Fonológico - “caule” / ‘kawlI/ [‘kawli]
Ditongo Leve > Falso > Fonético – “peixe” / ‘peyʃI / [‘peʃi]
(de Aragão, 2014)



Sobre a ditongação

ou desdobramento de segmentos vocálicos


Todas as vogais orais podem sofrer ditongação:

/a/ paz
/ɛ/ dez
/e/ três
/i/ giz
/ɔ/ voz
/o/ arroz
/u/ luz

Contextos de ocorrência:

_ /S, z/

+tonicidade da sílaba

+final 

- extensão da palavra

monossílabos  - faz
dissílabos - rapaz
trissílabos - aguarrás

Dados de de Aragão (2014): 72% de ditongação (em 25 capitais brasileiras)


Sobre a 'monotongação'

ou redução de segmentos vocálicos


Os ditongos /ay/, /ey/ e /ow/ podem sofrer 'monotongação':

/ay/ baixo
/ey/ beijo
/ow/ ouro


Contextos favorecedores:

_ / ʃ , ʒ , g, ɾ /
_ / v /

baixa, caixa
beijo, queijo
manteiga
couro, cachoeira
ouvido, couve (mas *raiva, *Neiva)

extensão da palavra

remeleixo
prateleira, peneira
tesoura

Dados de de Aragão (2014): 98,55% de monotongação (em 25 capitais brasileiras)




E agora... um pouco de Português Clássico!



Lusiadas portada

Os Lusiadas - portada. Fonte: Edição facsimilar da Biblioteca Nacional de Lisboa. Disponível em http://purl.pt/1.

Lusiadas X 22
Os Lusiadas - Canto X, 22. Fonte: Edição facsimilar da Biblioteca Nacional de Lisboa. Disponível em http://purl.pt/1.


Os Lusíadas
Canto X, 22

Mas neste passo a Ninfa, o som canoro
Abaxando, fez ronco e entristecido,
Cantando em baxa voz, envolta em choro,
O grande esforço mal agardecido.
– "Ó Belisário (disse) que no coro
Das Musas serás sempre engrandecido,
Se em ti viste abatido o bravo Marte,
Aqui tens com quem podes consolar-te!

..."


Camões, Luís de. Os Lusiadas. Lisboa : em casa de Antonio Gõçaluez, 1572. Edição facsimilar da Biblioteca Nacional de Lisboa. Disponível em http://purl.pt/1.



3. Variação e norma pedagógica


3.1 A 'Questão da Língua' no Brasil em meados do século XX


Bibliografia complementar:

Paixão de Sousa, Maria Clara. A morfologia de flexão no português do Brasil: ensaio sobre um discurso de perda. Estudos da Língua(gem). 2010;8:55-82. Disponível em: http://www.estudosdalinguagem.org/index.php/estudosdalinguagem/article/view/175  

Textos comentados no artigo:

Melo , Gladstone Chaves de. A Língua do Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 1975. 1ª ed.: 1946.
Silva Neto , Serafim. Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Presença, 1976. 1ª ed.: 1950.



3.1.1 O Paradigma verbal do 'Português Popular' em
"A língua do Brasil" (Melo, 1946) e "Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil" (Silva Neto, 1950)

Paradigma Verbal

3.1.2 Excertos de "A língua do Brasil" (Melo, 1946) e "Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil" (Silva Neto, 1950)

(grifos meus)

A grande maioria dos fatos que caracterizam os nossos falares regionais tem âmbito panbrasileiro [...]. Está neste caso o frisante fato, que representa o vestígio do crioulo colonial, do desaparecimento da flexão numérica por meio de –s: os livro, as mesa. O mesmo se dirá da extrema simplificação das formas verbais, outra cicatriz do primitivo aprendizado tosco da língua portuguesa. De modo geral, em todas as regiões, só se usam a 1ª e a 3ª pessoas; o plural da 1ª pessoa perde o –s: bamo, fazemo, fomo, e, nos proparoxítonos, perde a terminação –mos: nós ia, fosse, andava. [...] (Silva Neto, 1950, p. 135).


Descoberto o Brasil, para cá trouxeram os portugueses sua língua românica. Esta a princípio encontrou um forte rival no tupi, que, até o século XVIII , chegou em certas regiões a ser mais falado que o português. Depois, este reagiu e recuperou terreno à língua local. Mas então se deu um fenômeno de capital importância na história das línguas: os indivíduos que tinham o tupi como língua materna abandonaram-no e adotaram o novo idioma. Naturalmente não puderam dominar todo o mecanismo e todas as sutilezas deste; antes, aprenderam-no mal, desfigurando-o com uma série de defeitos provenientes dos antigos hábitos linguísticos. 
Agora, pelo tempo adiante as gerações sucessivas foram perdendo esses defeitos iniciais, porque não tiveram de deixar sua língua para adquirirem outra, e principalmente porque as constantes ondas linguísticas, depuradoras e retificadoras, formadas pelas levas de emigrantes que, dirigindo-se ao Brasil, ameaçavam despovoar o Reino, iam desfazendo as diferenças e planificando o aspecto linguístico brasileiro. 
O mesmo se deve dizer de outro elemento perturbador e praticamente concomitante: o negro africano. Também ele entrou a falar mal o português, desfigurando-o com a marca dos seus anteriores hábitos linguísticos. 
Ao estudar-se a influência do negro no português do Brasil, não se pode esquecer o papel dos feitores, e principalmente o das mucamas e mães pretas, que criavam e ensinava a falar os 'sinhozinhos'. 
Mas depois, também neste caso, apareceram os elementos unificadores: as ondas linguísticas oriundas da metrópole, o meio mais culto, as escolas, a língua escrita e o contacto com pessoas instruídas
Pois bem: o português, transplantado, sofreu um rude abalo. Passou por vicissitudes mil, decorrentes das condições históricas, sociais e geográficas da formação brasileira, sofreu a concorrência do tupi, foi altamente deturpado na boca de índios e mamelucos, e na boca dos pretos, ficou ilhado em muitos pontos do território nacional, que se imunizaram do bafejo civilizador. Mesmo depois que reagiu e se adaptou às novas condições de vida, mesmo depois que foi tonificado pelas injeções de sangue novo, as levas de emigrantes lusos que, sucessivas, buscavam a Colônia, mesmo depois que se pode acastelar na língua escrita, teve que ser usado por um povo que já tinha outra afetividade que não a portuguesa, outro espírito nacional, outra maneira de sentir e interpretar a vida. 
Pergunta-se: esta série de abalos que sofreu, sob os céus americanos, o velho idioma do Condado Portucalense determinou a formação de um tipo linguístico novo e diferente, ou apenas condicionou divergências acidentais que não permitem o reconhecimento – com honestidade intelectual – de uma 'língua brasileira', senão apenas o de um 'aspecto brasileiro' da língua portuguesa? Eis o problema (Melo , 1946, p. 17-18).

 

Como se vê, há muitas semelhanças entre o português dos índios e o português dos negros. Isto é, aliás, bem natural, pois tanto o índio quanto o negro, em atrasado estágio de civilização, aprenderam o português como língua de emergência, obrigados pela necessidade (Silva Neto , 1950, p. 36)

 

No português brasileiro não há, positivamente, influência de línguas africanas ou ameríndias. O que há é cicatrizes da tosca aprendizagem que da língua portuguesa, por causa de sua mísera condição social, fizeram os negros e os índios. (Silva Neto , 1950, p. 96).

 

Se negros e índios falavam, nos primeiros tempos da colônia, um português deturpado, simplificado ao máximo em suas formas, era em virtude da condição social ínfima e de mínima cultura. Pouco a pouco, no contato com os brancos e ao sopro das luzes das escolas, negros, índios e mestiços de toda a espécie foram aperfeiçoando a sua linguagem (Silva Neto, 1950, p. 91).

 

Porque a redução de flexões na fala popular brasileira representa um desvio e não o termo de uma evolução, ela pode ser corrigida. E é na verdade o que acontece. À medida que se eleva na escala social ou que recebe instrução, vai o negro, o mulato, o matuto ou o urbano atrasado falando melhor, flexionando os nomes e os verbos. Logo, à medida que se for disseminando, pelo nosso hinterland, a alfabetização, a instrução, as escolas, é de esperar que vão reaparecendo as flexões perdidas. Haverá um reajustamento linguístico, não por baixo, mas por cima (Melo , 1946, p. 103).