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  • O período operatório-formal e a adolescência 


    Leitura: Piaget, J. (2004). Seis estudos de psicologia (MA M. D’Amorim & PSL Silva, Trads.). Rio de Janeiro: Forense Universitária.(Trabalho original publicado em 1964). Adolescência. Descarregue seu texto AQUI.


    O período formal, como é chamado por Piaget e Inhelder (1976), é aquele anunciado pela possibilidade de um raciocínio abstrato, onde as hipóteses podem ser testadas, os objetos e juízos combinados de todas as formas possíveis, e as operações são chamadas de formais ou hipotético-dedutivas. As inversões e reciprocidades reúnem-se em um único sistema de transformações, dando origem à combinatória, ao grupo das duas reversibilidades (grupo INRC) e às operações proposicionais. Conforme as palavras de Piaget (1964, p.64): “As operações formais fornecem ao pensamento um novo poder, que consiste em destacá-lo e libertá-lo do real, permitindo-lhe, assim construir, a seu modo, as reflexões e teorias”.

    A conquista da possibilidade de pensar abstratamente sobre as coisas é apresentada por Piaget (1964/1986, p.62), como uma construção própria da adolescência que vai assegurar ao pensamento e à afetividade um equilíbrio superior ao que existia na infância. “Os adolescentes têm seus poderes multiplicados; estes poderes, inicialmente, perturbam a afetividade e o pensamento, mas depois os fortalecem” (PIAGET, 1964, p.62).

    Piaget e Inhelder (1976) afirmam que o adolescente constrói uma nova forma de pensamento, que ele intitulou pensamento formal, cuja principal característica é a capacidade de construir sistemas e teorias. Para os autores: 

    "As estruturas formais não são formas inatas ou apriori do entendimento, e que seriam escritas previamente no sistema nervoso, e nem representações coletivas que existam inteiramente elaboradas fora e acima dos indivíduos, mas formas de equilíbrio que se impõem pouco a pouco ao sistema de intercâmbios entre os indivíduos e o meio físico e ao dos intercâmbios entre os indivíduos". (PIAGET; INHELDER, 1976, p.252).

    Portanto, entre o aspecto biológico e o social existe algo extremamente precioso que se constitui que é a ação do sujeito. Essa conquista do pensamento formal é fruto do conjunto das experiências e dos exercícios feitos pelo indivíduo para adaptar-se simultaneamente ao mundo físico e ao mundo social.

    Elkind (1975) remetendo-se aos estudos de Piaget sobre a estrutura cognitiva do adolescente aponta para três aspectos que diferenciam o pensamento do adolescente do da criança: capacidade do adolescente de lidar com a lógica operatória; capacidade de pensar hipoteticamente; capacidade de construir ideais coletivos. 

    Quanto ao primeiro aspecto, ou seja, a capacidade do adolescente de lidar com a lógica combinatória, diz respeito a uma amplitude da capacidade de raciocínio que conduz o jovem a uma infinidade de alternativas para solucionar os seus problemas e todos os problemas do mundo, sendo a alternativa diretiva paterna apenas mais uma, porém, imprescindível o é para ele conhecê-la, e principalmente os argumentos e justificativas adjacentes, bem como a comparação da posição dos genitores com suas próprias atitudes e virtudes. Por isso, que muitos pais de adolescentes se queixam de que eles discordam de absolutamente todas as suas ordens e opiniões. 

    Tal pensamento explica também outra característica típica dessa fase do desenvolvimento – a indecisão dos jovens – pois o trabalho do raciocínio combinatório torna o processo de tomada de decisão um problema.

    Elkind (1975) ainda afirma que essa capacidade de pensar ao mesmo tempo sobre muitas e diferentes alternativas, isto é, os aspectos cognitivos do conflito, são em parte responsáveis pelos tumultos e tensões deste período, e daí a necessidade da busca de opiniões divergentes daquelas dos seus pais, encontradas então nas conversas com os amigos. 

    "Em resumo, a presença de estruturas que capacitam o adolescente a construir múltiplas alternativas prepara o terreno para os conflitos característicos entre jovens e pais, assim como para a crescente dependência quanto ao grupo de amigos para a tomada de uma decisão final" (ELKIND, 1975, p.109).

    O segundo aspecto que diferencia o raciocínio da criança do raciocínio do adolescente, apresentado por Elkind (1975) é a capacidade de pensar hipoteticamente, o que garante aos adolescentes a possibilidade de pensar sobre o próprio pensamento. Daí a característica da introspecção dos jovens, que explica as horas que passam deitados em seus quartos olhando para o teto. 

    Por último, o terceiro aspecto que caracteriza o pensamento do adolescente, segundo Elkind (1975), é a capacidade de construir ideais, ou situações contrárias à realidade. Conforme as palavras do autor:

    "Muito da rebelião adolescente contra a sociedade adulta origina-se, pelo menos em parte, dessa nova capacidade de construir situações ideais. Entretanto, esses ideais são quase que inteiramente intelectuais e o jovem tem pouca noção de como poderiam ser transformados em realidade, e menos ainda tem interesse em trabalhar para concretizá-los" (1975, p.111).