Eduardo M. Rodriguez
O movimento pelo decrescimento surgiu dos princípios da Economia Ecológica. Um dos princípios fundamentais diz que precisamos de uma economia de "escala sustentável," ou seja, onde a produção econômica (que inclui consumo de energia e recursos naturais, e também a geração de poluição e outros resíduos materiais) de uma certa região não ultrapasse a capacidade biofísica/ecológica dessa mesma região. Hoje existem inúmeras formas de medir essa relação entre produção física/econômica e capacidade física/ecológica. Tudo indica que nossa economia global não é sustentável.
Parece contradição -- se não é sustentável, como é possível? Primeiro, porque enquanto crescemos e produzimos mais, estamos degradando mais -- a perda de florestas, de corais, de biodiversidade, as mudanças climáticas etc. são as consequências. E segundo, porque estamos usando recursos não-renováveis que não estarão disponíveis no futuro (petróleo, carvão, fósforo, minérios etc.). Então, o que é possível no curto-prazo, não necessariamente será no longo-prazo.
Portanto, existe essa necessidade de "decrescer," ou seja, diminuir o tamanho físico da nossa economia para atingir uma "escala sustentável."
É nesta altura que as coisas ficam mais complicadas. O mero ato de mencionar "decrescimento" num grupo típico de pessoas (acho que na maior parte do mundo), nos expõe como um radical esquisito. Em geral, quando se fala em decrescimento, a métrica relevante é o PIB de um país. E pouca gente quer falar em diminuição do PIB -- coisa que significa recessão, austeridade, desemprego, falta de oportunidade etc.
E até dentro de círculos de pessoas que também se identificam com esses temas de sustentabilidade, o termo "degrowth" ou "decrescimento" gera polêmica. Os a favor dizem que o objetivo do movimento não é "diminuir o PIB," mas sim planejar o desenvolvimento de uma economia menos intensiva, "low carbon," mais lenta, sustentável etc. Mas eles gostam do termo decrescimento porque eles acreditam que esses objetivos irão demandar uma diminuição da nossa atividade econômica, diminuição de produção excessiva, de poluição etc. Os contra preferem termos mais neutros tipo "agrowth" ou "growth agnosticism," e dizem que a gente pode buscar esses objetivos sem focar na idéia de "menos." Acham que a viabilidade de um movimento que promove "menos" nunca sairá do chão.
Dois professores da Universidade Autônoma de Barcelona (Giorgos Kallis e Jeroen van den Bergh) debateram essas idéias recentemente. Vejam uma síntese aqui:
Agrowth – should we better be agnostic about growth? (about van den Bergh Nature's article)
Degrowth is anything but a strategy to reduce the size of GDP (by Giorgos Kallis)
O van den Bergh escreveu um artigo na revista Nature, comparando estratégias de "green growth," "degrowth," e "agrowth."
O debate pode parecer um desentendimento desnecessário, linguístico, semântico... Os dois parecem concordar mais do que discordar. Isso mostra o quanto o assunto é difícil e complicado. O meu lado idealista (mas de certa forma realista) concorda com o Kallis, que o decrescimento é indispensável para um mundo sustentável. E o meu lado pragmático (e também realista) concorda com o van den Bergh, que falar em "decrescimento" é se condenar à irrelevância no mundo atual, e que focar nos objetivos de reduzir impactos, sem se prender ao conceito de "crescimento", talvez seja uma estratégia mais produtiva ...
Fev/2018.