Diagrama de temas

  • APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

    A história profunda da humanidade remonta à aproximadamente 7 milhões de anos atrás quando viveu o último ancestral comum que compartilhamos com o chimpanzé - o primata não extinto que geneticamente mais se aproxima de nós. As narrativas e reconstruções dessa trajetória hominínea - que nos conecta não apenas a esse último ancestral comum mas também à inúmeras formas de humanidades que deixaram de existir - se baseia, em grande medida, na interpretação de remanescentes esqueletais fossilizados. Assim, a partir da análise comparativa de feições osteológicas concretas infere-se não apenas relações de ancestralidade mas também uma série de aspectos imateriais do comportamento humano tais como padrões de subsistência, formas de locomoção, estratégias adaptativas, alternativas de organização social, sistemas de acasalamento, histórias de vida, capacidade de fala, gestos tecnológicos e até mesmo expressões cognitivas. Exemplos incluem a possibilidade de determinar se um individuo era bípede pela morfologia da base de seu crânio, o grau de agressividade dos machos de uma determinada espécie com base no tamanho relativo dos caninos, capacidade de produzir ferramentas de pedra a partir da análise de uma falange de mão, a capacidade de fala com base na estrutura do ouvido interno ou a possibilidade de pensamento simbólico com base na anatomia do cérebro. Estas inferências, sempre associadas com relevante grau de incerteza, são feitas a partir de estudos de anatomia comparada - especialmente entre primatas hominóides - que tem como base pressupostos uniformitaristas, generalizações funcional-mecanicistas e princípios de micro-evolução biológica com ênfase em processos de desenvolvimento (‘evo-devo’). A aplicação dessas chaves interpretativas passa por um conhecimento detalhado da osteologia dos grandes símios e dos humanos modernos e de suas implicações anatômicas mais amplas - particularmente no que se refere à musculatura - bem como de suas correspondências comportamentais e filogenéticas.

    Na presente disciplina a variabilidade anatômica hominóide será apresentada em detalhe e suas correspondências funcionais, ontogenéticas e filogenéticas discutidas à luz dos trabalhos mais recentes publicados nos últimos anos. Na sequência, o registro fóssil homínineo será revisto numa lógica diacrônica e de forma individualizada (e.g. KNM-ER 1470) com ênfase para os aspectos anatômicos mais relevantes de cada espécime. O conhecimento prévio de osteologia básica e evolução humana permitirão um maior aprofundamento dos temas abordados, mas em todas as aulas será apresentada uma revisão inicial que permitirá a todos acompanhar a disciplina.

  • OBJETIVOS DA DISCIPLINA

    1. Apresentar uma revisão detalhada da anatomia comparada hominóide (a superfamília Hominoidea incluí humanos, grandes símios e as respectivas linhagens extintas desde o último ancestral comum); 2. Discutir o potencial interpretativo dessa diversidade anatômica em relação a comportamento, gesto, função, ontogenia e filogenia; 3. Revisar o registro fóssil hominíneo (a tribo Hominini inclui humanos e respectivas linhagens ancestrais, mas excluí grandes símios) – de 7 milhões de anos atrás até o presente – de forma crítica a partir dos conhecimentos aprendidos com ênfase nas principais transições que ocorreram ao longo desse período.

  • AULA 1 - Uma breve revisão da evolução humana: dos primeiros bípedes aos humanos modernos

  • AULA 2 - A mão e o canal medular: as bases anatômicas dos gestos tecnológicos e sua correlação com o registro arqueológico

  • AULA 3 - A anatomia do pé e a diversidade locomotiva hominóide

  • AULA 4 - A anatomia dos membros inferiores e a biomecânica da bipedia: implicações sócio-culturais

  • AULA 5 - A morfologia pélvica e o dilema obstétrico: padrões hominóides de life history

  • AULA 6 - Coluna vertebral: o debate sobre a essência do último ancestral comum com os chimpanzés

  • AULA 7 - A caixa torácica e suas implicações comensais

  • AULA 8 - A cintura escapular e os membros superiores: de relações atávicas com a floresta à especializações para lançamento de projéteis

  • AULA 9 - Diversidade dentária e suas implicações para o comportamento social e nutricional hominóide

  • AULA 10 - A morfologia craniana hominóide: filogenia, ontogenia e função

  • BIBLIOGRAFIA


    1. Aiello L, Dean C, 1990. An introduction to human evolutionary anatomy. Elsevier.

    2. Klein, RG. 2009. The human career - human biological and cultural origins. The Uni-versity of Chicago Press

    3. Lieberman DE. 2014. The story of the human body. Vintage.

    4. Lieberman DE. 2011. The evolution of the human head. Harvard University Press.

    5. Mielke JH, Konigsberg LW, Relethford JH. 2006. Oxford University Press.

    6. Ridley M. 2004. Evolução. Artmed editora.

    7. Mithen S. 2007. The singing neanderthals: the origins of music, language, mind, and body. Harvard University Press.

    8. Reich D. 2018. Who we are and how we got here: ancient DNA and the new science of the human past. Pantheon.

    9. Shubin N. 2009. Your inner fish: a journey into the 3.5-billion-year history of the hu-man body.

    10. Wrangham R. 2010. Catching fire – how cooking made us human. Basic Books.

  • CRITÉRIOS DE AVALIAÇÂO

    Avaliação com base em trabalho final de 10 páginas onde o aluno deve apresentar um ensaio de anatomia comparada a respeito de um fóssil hominíneo específico.